Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 14.03.1998
Para os fãs da diversão
O nome é meio esquisito, As Aventuras do Super Pum. Mas, apesar da sugestão onomatopaica de gosto duvidoso, o super do título é só um avião que leva o personagem de Sílvia Massari a correr pelo mundo contando para as crianças as histórias do teatro, da música, do circo, da literatura e de outras artes. O texto assinado pela dupla de autores, Flavio Marinho e Tadeu Aguiar, é mais um roteiro teatralizado onde se encaixam várias canções já bastante conhecidas da plateia. Sem muitas pretensões, todo mundo se diverte.
No melhor estilo pocket show para a atriz e cantora, a peça é certamente o veículo ideal para o talento de Sílvia Massari, que em cena também manipula sua estrelinha coadjuvante, a irreverente bonequinha Maria Santa, nascida no palco cult do espetáculo As Noviças Rebeldes, que ficou famosa na TV, e que chega ao teatro bem mais comportada, sem , no entanto, perder o seu charme.
No palco quase nu, dispondo apenas de um livro cenográfico de onde saem todos os seus adereços cênicos, Sílvia é uma espécie de “homem banda”, no caso , uma mulher banda a contar história. Como não podia deixar de ser, tudo começa na Grécia com Tespis, o primeiro ator do mundo, e passa rapidamente para um maravilhoso tour musical onde não poderia faltar – não fosse este um espetáculo da grife Flávio Marinho – o dó-ré-mi da Noviça Rebelde. A versão usada é a mesma de Música Divina Música, peça musical de muito sucesso nos 60.
Concebida como um espetáculo de bolso, pronta para viajar com bagagem nas costas e ser apresentada em qualquer lugar, a peça conta com a participação de crianças da plateia em cena. A estratégia, mesmo que simpática, acaba interferindo no modelo aconchegante que o espetáculo apresentava. A atenção para a história se dispersa e tudo mais que vem a acontecer no teatro tem o tom animado dos shows, onde a plateia canta junto.
As Aventuras do Super Pum tem ficha técnica de primeira, como a direção de Tadeu Aguiar e Regina Restelli, figurinos de Lessa de Lacerda e Wilson Coca, adereços Cênicos de Marcelo Marques, adereço de luz de Renato Machado e direção musical de Guto Graça Mello. Apesar do empenho da produção, a operação técnica do Teatro Barrashopping promove algumas falhas que acabam comprometendo a encenação, como por exemplo, o som altíssimo do microfone de Sílvia Massari, completamente destoante de sua atuação intimista – o tal efeito “girar alto e gritar baixo”, que pode derrubar qualquer ator.
Mesmo com esses contratempos, o espetáculo agrada à plateia que vai ao teatro não só para rever o personagem da TV, Maria Santa, e sua criadora, a atriz Sílvia Massari, mas para participar de mais uma aventura teatral cheia de referências aos grandes musicais, mesmo em versão pockets, promovida por Flávio Marinho e Tadeu Aguiar. Um espetáculo para fãs do entretenimento que seguem à risca o conselho de L.B. Meyer, o chefão da MGM na época de ouro do cinema: quem quiser mandar uma mensagem é melhor usar os correios e telégrafos. O palco é democrático, tem teatro pra todo mundo.
Cotação: 2 estrelas (Bom)