Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B

Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 22.01.1994

 

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Encenação linear e desanimada

Ir ao teatro, algumas vezes, pode ter o mesmo sabor de uma viagem, no túnel do tempo, a época em que as pecinhas de final de ano da escola eram consideradas a oitava maravilha do mundo pelos seus participantes. Isso porque o costume, adotado pela maioria dos atores, diretores e produtores, de não assistir a outros espetáculos que não o seu próprio resulta na repetição de velhas fórmulas, às vezes de maneira desastrosa.

As Aventuras de um Diabo Malandro não é um dos textos mais inspirados da conceituada autora Maria Helena Kühner. Um capitão sem tropas e Capitulino, o homem do capital, tomam de assalto outro planeta do sistema solar, para explorar suas maravilhas naturais. Então, nesse planeta, surge o diabo, enfurecido com os desmandos do ser humano – não por motivos morais, mas por constatar que o medo de ir para o inferno não causa sequer arrepios nos terrestres. Na reunião intergaláctica, uma quase venusiana é aprisionada para o trabalho escravo. Se os personagens já não são lá muito consistentes, as cenas que se seguem em nada ajudam o desenrolar da trama. E o final é surpreendentemente desanimador.

Na direção do espetáculo, Gilson Barcia tem muito pouco a fazer para contar uma historia comum e linear. Na direção de atores, no entanto, o diretor poderia ficar mais atento aos exageros cometidos na concepção dos personagens. Fábio Marinho, o Capitulino, treme e bambeia o corpo por 60 minutos, numa caricatura não identificada: Velhice? Ansiedade? Mal de Parkinson? Cláudio Raposo varia suas expressões de autoridade em pouco zangado e muito zangado, dando pouca chance a outras emoções. Marco Moreira faz um diabo apenas correto, enquanto Nadia Martinez, a figura mais interessante em cena, é prejudicada pela falta de homogeneidade do elenco.

Os figurinos de Leonardo Mureb, embora pouco criativos, não chegam a comprometer a encenação. As músicas de Sérgio Roberto e Ton Neumann fazem uma incursão arqueológica pelo, iê-iê-iê, com algumas passagens pela bossa nova, inclusive reproduzindo literalmente alguns acordes já bastante conhecidos.

Apesar de tudo, as crianças participam ativamente do espetáculo e parecem se divertir bastante. Mistério tão incompreensível quanto o sucesso de Chaves e Chapolin na TV. Mas isso não é o teatro.

As Aventuras de um Diabo Malandro está em cartaz no Teatro Cândido Mendes, em Ipanema, aos sábados e domingos, as 17 h. Ingressos a CR$ 500.

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