Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 25.06.1994

 

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Um herói cheio de astúcia

Pedro Malazartes, embora muitos não se lembrassem, já foi personagem de grande popularidade entre crianças e adultos. Também um herói sem caráter, como Macunaíma, seu mais provável descendente, Malazartes, ao contrário do que possa parecer, não é um incentivador da Lei de Gerson. Nos seus golpes, só saem perdendo justamente aqueles que querem levar vantagem em tudo, certo? Desse modo, suas artimanhas, que poderiam ser confundidas com um incentivo à falcatrua, acabam se tornando simpáticas aos olhos do observador.

As Aventuras de Pedro Malazartes, de Ricardo Hofstewttter, preserva o lado sutil do herói, deixando para o lesado o status de vilão. Ainda que construído com alguma fragilidade – a cena inicial se arrasta desnecessariamente -, o texto apresenta situações e personagens recolhidos na história oral da Idade Média, recontadas ao jeitinho brasileiro. Assim, fazem parte das atribuições de Malazartes fazer rir uma princesa emburrada, fazer chorar um gigante de um olho só e descobrir a localização de uma ilha mágica, fazendo uma única pergunta aos dois sábios do local – um que só diz a verdade e outro mente. Essa última façanha tem resultado nebuloso no palco, exceto para os fãs de Malba Tahan. Uma simples pergunta – por exemplo: qual a cor da sua roupa? – resolveria a questão.

A direção de Andréa Dantas privilegia a interpretação dos atores, mas se descuida da unidade do espetáculo. No entanto, com exceção da cena inicial, desprovida de ritmo, e da dificuldade criada pela troca de um dos cenários, a montagem corre sem muitos problemas, por força do elenco.

Isaac Bernart, em grande fase, é um engraçadíssimo Pedro Malazartes. Acompanhando a linha do humor, Rogério Freitas e Cláudia Guimarães dão vida a seus personagens com caracterizações bem-cuidadas. Joice Niskier é bastante ágil em disfarces.

Os cenários de Sérgio Marimba, com exceção da casa da família Malazartes, são simples e de muito efeito. O mar, feito em embalagens plásticas de refrigerantes, tem o merecido impacto, apenas quebrado pelo difícil desmonte e pela intervenção da contrarregragem em sua retirada. Também sem levar em conta o guarda-roupa dos Malazartes, os figurinos de Bel Barcelos são divertidos e adequados. A luz de Aurélio de Simoni cria boas interferências, e a trilha sonora reedita clássicos dos anos 40, como Mulher e Ai ioiô, em momentos precisos, de muita graça.

As Aventuras de Pedro Malazartes é um espetáculo indicado especialmente para os fãs de enredos onde a astúcia suplanta a força. Em tempos atuais, salvo a alguma dissidência mal-humorada, a maioria do público.

As Aventuras de Pedro Malazartes está em cartaz no Teatro Villa-Lobos, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a CR$ 7.000.

Cotação: 2 estrelas.