Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 15.04.1975

Barra

 

A árvore que não anda

O equívoco inicial está na escolha do texto. A Árvore que Andava, de Oscar Von Pfuhl, é uma peça que leva os espectadores a se identificarem com personagens (no caso, os Coelhos) que conseguem obter a liberdade através da mentira. Em termos educacionais, a deficiência da peça fica visível apenas com esse argumento. Mas, em termos teatrais propriamente ditos, o texto de Pfhul também apresenta falhas bastante claras. A peça se desenvolve a partir de entradas e saídas totalmente desmotivadas dos personagens.

– “Vou embora para voltar daqui a pouco”.

Ou, ainda:

– “Vamos comer alguma coisa por aí enquanto ela fala com o sol”

Mas, além de tais recursos anacrônicos, o texto deve a sua vida a lugares-comuns como acena onde um personagem fala em segredo, para que o público não ouça seus planos para a resolução dos problemas: ou ainda, é totalmente arbitrário quanto à ação: os Coelhos e a Árvore fazem tudo para que o Jaboti se recorde da fórmula mágica, mas ele não se lembra de jeito nenhum. Mas, de repente, para que o espetáculo possa terminar, sem motivação externa ou interna, o Jaboti se recorda de tudo.

O equívoco seguinte está na direção de Eugênio Gui. O espetáculo não consegue esconder as falhas do texto. Pelo contrário – amplia-as. O desenvolvimento é lento e desinteressante; as marcas são sujas; o ritmo, capenga; e toda a utilização da música durante a ação só serve para jogar a encenação mais para baixo. O diretor não conseguiu obter um rendimento satisfatório do elenco quanto à parte musical e as canções são interpretadas timidamente, baixinho, criando imensos vazios na montagem.

O elenco, além de não saber cantar, demonstra grande inexperiência, principalmente os dois atores que fazem os Coelhos (como não havia programa é impossível, para o crítico, identifica-los.) O elenco, na estreia, estava inseguro, tropeçando tanto no texto quanto no cenário. A destacar, o trabalho do Jaboti que, apesar de ter criado uma voz-chavão, conseguiu ser engraçado.

Os figurinos (de quem são?) funcionam bem, principalmente os da Árvore, realmente muito bonitos. A exceção fica para a roupa dos Coelhos que conseguiu ser apenas Kitsch. O cenário (de quem?) é interessante, cria bom impacto visual quando a peça começa. Mas deveria, apenas, ter mais unidade nos elementos utilizados.

A Árvore que Andava, no Teatro Gláucio Gill, é mais um dos espetáculos infantis que parecem ter boas intenções, mas que se frustram totalmente. O texto é perigosos, a direção não consegue compensar as falhas da peça e o elenco é inexperiente, com os atores sem saber o bê-á-bá do palco que é se colocar em cena. Enfim – e, infelizmente – mais um espetáculo que o crítico não tem condições de recomendar.