Matéria publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 06.03.2015
Articularte faz 15 anos com mostra de repertório
O hit de bilheteria desta importante cia. de bonecos, A Cuca Fofa de Tarsila, está de volta à programação
Uma das mais prestigiadas companhias de teatro de bonecos de São Paulo, a Cia Articularte, comemora 15 anos de trajetória de uma forma muito especial: com uma mostra de três peças bem sucedidas de seu vasto repertório, durante todo o mês de março, reinaugurando o horário de teatro infantil no Teatro Espaço Promon. Notícia muito boa! Os espetáculos são: Chapeuzim Vermelho e o Lobo Marron, O Trenzinho Villa-Lobos e A Cuca Fofa de Tarsila. Enquanto isso, preparam ainda para este ano a nova atração: Jorginho e o Dragão Camaleão. Nesta entrevista, Dario Uzam, um de seus fundadores (ao lado de sua mulher, a bonequeira Surley Valério), nos conta tudo isso em detalhes. Vamos prestigiar?
Crescer: Como nasceu a companhia? Vocês são de onde? Conte um pouco sobre a história do grupo, resumidamente.
Dario Uzam: A Cia. Articularte nasceu a partir de uma mostra de artes, exposição da obra de Tarsila do Amaral, no SESI. A Surley, minha esposa e bonequeira do grupo, já trabalhava com bonecos, publicidade e artesanato, em uma produtora, Boca de Cena, de Beto de Souza, irmão de Naum Alves de Souza. E voltando à mostra de Tarsila do Amaral, quando vimos o quadro original do Abaporu, a emoção foi tamanha: a casa caiu e começamos a construir outras casas e nichos teatrais. Hoje já montamos 11 espetáculos, a maioria ainda está em repertório. E vem por aí o décimo segundo, uma dúzia em 15 anos. Já encaramos muitos desafios, diversas e fantásticas vitórias, e também alguns fracassos com os quais aprendemos muito. Quanto ao teatro de Formas Animadas, já pesquisamos e trouxemos a público para as crianças e familiares as principais técnicas teatrais de animação, desde sombras até luvas. Gostamos de dizer que fazemos teatro, artes cênicas com bonecos. Costumamos realizar cerca de 200 espetáculos por ano. Até hoje já foram mais de 3 mil espetáculos, para um público somado de mais de 1 milhão de pessoas. E acho que vai ser assim: enquanto o público estiver comparecendo e os convites pululando, significa que estamos vivos e podemos contribuir com esta arte desafiadora, indescritível e prazerosa que é o teatro de bonecos feito para o imaginário das crianças.
Crescer: Fale agora de sua formação e de Surley, os dois fundadores da Articularte.
Dario Uzam: Eu, Dario, nasci em Jales, perto de Presidente Prudente – e vivi minha infância em Guarulhos. Minha mãe foi diretora de escola e meu pai foi um aventureiro. Fiz minha universidade teatral com Antonio Abujamra, durante três anos. E com Antunes Filho, durante quatro anos, em que aprendi muito e pude visitar teatralmente 10 países, apresentando A hora e vez de Augusto Matraga e Macunaíma em muitos festivais, da França, Espanha, Alemanha, Canadá, e Grécia, quando realizamos o espetáculo em um emocionante teatro a céu aberto, moderno, mas grego puro… A Surley se formou em teatro e arte educação, nasceu e viveu em São Paulo, filha de músico e de uma mãe maravilhosa, Dona Hercília, hoje com 80 aninhos, mais sarada e saudável que muita gente de 60.
Crescer: Quais as técnicas de animação e tipos de bonecos que vocês mais gostam de usar em seus espetáculos e por quê?
Dario Uzam: Gostamos mais de trabalhar com as técnicas de manipulação direta e luvas. Depois, a manipulação de hastes e sombras. Mas depende sempre do espetáculo que estamos realizando. Consideramos a manipulação direta mais fácil e de melhor envergadura, porque temos domínio melhor dos bonecos, com mais possibilidades de animação. Mas a técnica de luvas, que é muito simples, sempre surpreende. Nosso espetáculo Chapeuzim Vermelho e o Lobo Marrom comunica muito bem ao público os comportamentos do Lobo, da Chapeuzim e dos demais personagens. E o nosso Valente Filho da Burra, sombras, também é sempre um prazer realizar. E o espetáculo com argumento do Luis Alberto de Abreu, O menino que abria portas, costuma ser sempre divertido e emocionante. E para que dê tudo certo, estamos sempre bem acompanhados por 4 ou 5 bons atores manipuladores. Eles formam a base Cia. Articularte, que via de regra trabalha com essa quantidade de integrantes em cada espetáculo.
Crescer: Quais as principais dificuldades enfrentadas pela Cia. Articularte nesses 15 anos de trajetória?
Dario Uzam: As dificuldades maiores atuais são para agendamento tanto em SESCs, SESIs, como escolas das redes municipais e estaduais. Muitos pedidos de orçamentos são solicitados com pechinchas para baixarmos o custo de ingresso. E por mais que baixemos os valores, está ficando cada vez mais difícil fechar acordos, contratos, ou apresentações na rede pública, o que é uma pena. Percebemos também crescimento de grupos infantis em São Paulo, o que aumenta a diversidade e a concorrência positiva dentro dessa arte teatral.
Crescer: E as maiores alegrias que vocês já viveram no palco e fora dele?
Dario Uzam: Prêmio Panamco 2000 foi um momento crucial para a continuidade da Cia. Articularte, porque era a estreia do nosso primeiro espetáculo, A Cuca Fofa de Tarsila, que ganhou prêmio de Criação de Bonecos, o que nos estimulou a continuar com muita vontade em nossa história de construção de espetáculos para o público de cidadãos infantis. Sempre que conquistamos um Edital, e já foram mais de 12 ao todo, ficamos felizes, porque o futuro acena positivamente para o grupo e também porque parece que a elaboração dos projetos está trilhando caminhos certos. Atualmente estamos com um Prêmio Fomento, de 12 meses, além de um prêmio PROAC, para a produção de um novo espetáculo.
Crescer: Qual o segredo para um espetáculo, como A Cuca Fofa de Tarsila, permanecer durante 15 anos no repertório? O que mais cativa o público nesse espetáculo?
Dario Uzam: A simplicidade do espetáculo é incrível. Parece que conseguimos chegar bem próximos do óbvio cênico, o que parece fácil, mas é um momento bastante incerto de se conquistar sempre que desejamos. Ainda bem que o teatro é assim, sem receitas, sem rótulos, desafiador, oculto, difícil, prazeroso, sempre com duas máscaras rindo ou fazendo caretas diante dos nossos passos e rumos. Entendemos que A Cuca Fofa de Tarsila seja daquelas pedrinhas raras, daqueles joguinhos que não se perdem no tempo, com graça, musicalidade e dinâmicas próprias. O texto, eu Dario, escrevi em duas noites, depois de muita pesquisa, mas veio assim em forma de enxurrada dramatúrgica, todos os personagens pedindo falas, lugar e vez. Foi uma festa da minha cabeça para o papel. E naquele momento eu percebi que o texto poderia ter muito fôlego e foi o que aconteceu: o espetáculo não pára de ser convidado, aqui, ali, acolá. Por isso que não o deixamos de lado, é o nosso mascote, filho, pai e talvez avô teatral. E no mesmo caminho vão O Trenzinho Villa-Lobos e Portinari Pé de Mulato, que estão sendo cada vez mais chamados.
Crescer: Qual a importância dessa mostra retrospectiva para a carreira do grupo?
Dario Uzam: Apresentar espetáculos para público espontâneo sempre é um momento cercado de expectativas. Estamos cumprindo Fomento e Proac, então foi possível bancar aluguel de uma sala teatral muito linda, que estava desativada por cerca de um ano. Por isso, vamos encarar mais este desafio. E mostrar esses três espetáculos, Chapeuzim Vermelho e o Lobo Marrom, O Trenzinho Villa-Lobos e A Cuca Fofa de Tarsila – que deverão fazer uma festinha teatral interessante para os pequenos e familiares. Todos têm bom contato com o público e via de regra nos damos bem com essas montagens. O importante é que são 15 anos de trabalho, jogos, teatro, crianças de todos os tamanhos, contato, troca de energias, humores, passagens, aventuras, quando sempre procuramos mostrar um pouco mais de comportamentos humanos para que as crianças possam observar e realizar suas releituras e diversões.
Crescer: Qual será o próximo espetáculo e qual o tema dele?
Dario Uzam: Jorginho e o Dragão Camaleão – o tema é trabalhar com a energia de crianças que serão futuros santos, sem tocar no assunto da religiosidade, porque as crianças estão acima desse fenômeno. As crianças sempre são melhores que qualquer tendência, porque estão mais próximas das purezas, das inabitações, das verdades e mentiras. É de longe o melhor público de todos, porque se tiver que criticar, será naquele momento, “na lata”, na “cara”, com o máximo de exposição e sinceridade possíveis, o que para nós é sempre um leme gigantesco. Costumamos dizer que o público é quem manda. Se não estiverem curtindo esta ou aquela cena, ou o espetáculo, o problema é sempre nosso – quando teremos que rever pontos, dramaturgias, curvas cênicas, entre outros fenômenos teatrais. Outro ponto e valor cultural que trabalharemos neste novo espetáculo será o contato de crianças comuns, mas com fibras heróicas, como é o caso de Jorginho, diante de um amigo que também é um ser mítico, ou seja, Longuinho criança antes se tornar São Longuinho. Outro detalhe defende que não é necessário matar dragões. É preciso somente lutar contra eles, que também estão dentro da gente. Assim, se matarmos dragões (sentimentais ou psicológicos), estaremos matando também partes de nós mesmos. Então, no espetáculo, o dragão é um mal necessário. Ele surge para chacoalhar a poeira de uma aldeia perdida no mapa do Brasil em um tempo antigo. E depois dessa experiência das crianças com o dragão, todos sairão revigorados, tendo passado por medos, desafios e outros quesitos da vida diária. Também trabalhamos com os seguintes personagens, amigos de Jorginho: Ditinho (negro), Luzia (cega), Chiquinho (futuro filósofo naturalista).
Serviço
Espaço Promon
Av. Juscelino Kubitschek 1830, bairro Itaim, São Paulo
Preço: R$ 40 e R$ 20 (meia).
Dia 08/03 às 15h30 – Chapeuzim Vermelho e o Lobo Marrom
Dia 15/03 às 15h30 – Chapeuzim Vermelho e o Lobo Marrom
Dia 22/03 às 15h30 – O Trenzinho Villa-Lobos
Dia 29/03 às 15h30 – A Cuca Fofa de Tarsila