Crítica publicada no Jornal O Globo
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 21.09.1997


Arca Navega entre Texto Frágil e Visual Atraente

O espetáculo A Arca de Noé, em cartaz no Teatro Villa-Lobos, é uma daquelas produções que merecem mesmo o rótulo de espetáculo, no sentido de impressionante. Boas músicas, de Marcelo Neves, cantadas ao vivo pelos atores, um elenco de protagonistas seguros, Gustavo Gasparani, como Noel, e Solange Badim como Noelza, e os figurinos de Rosa Magalhães que recriam dezenas de bichos são os trunfos desta peça, que reconta a velha história bíblica do cidadão incumbido pelo Todo Poderoso de salvar a raça humana, e os animais, de um grande dilúvio.

Talvez por entender que não havia muito mais a ser dito sobre uma história manjada, mas ainda assim bacana, as diretoras e autoras Isabela Secchin e Thereza Falcão concentraram esforços na fração show do negócio, objetivo aliás perfeitamente louvável, que o público reconhece, lotando o teatro. Por pouco, entretanto, elas não deixam a arca correr por água abaixo. Com texto e roteiro um tanto frágeis, em alguns momentos nem os atores-bichos conseguem segurar as crianças nas poltronas. Uma ótima sacada foi a inclusão de um casal de baratas, Carlos Loffler e Inês Cardoso, engraçadíssimos, que tenta a todo custo entrar na arca.

De grande impacto visual, mas sem a menor função na peça, as aparições fugazes de uma grande girafa em cena e do ator vestido de anjo que voa sobre o público, preso por elásticos, só reforçam a ideia de desperdício de munição.

O espetáculo diverte, tem até chuva em cena, mas as moças bem que poderiam ter aproveitado melhor suas boas ideias.