Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Eliana Yunes – Rio de Janeiro – 31.05.1986
Na Moda os Musicais
Os musicais para crianças estão em alta nos palcos do Rio. Além de reprises como A Arca de Noé que inaugura um café-concerto infantil, no Teatro Cacilda Becker, e do bem sucedido Astrofolias que continua distribuindo informes sobre astronomia, segue em cartaz o bonito espetáculo de Cláudio Tovar/Lenita Plonczynski, Simbad de Bagdá, o misto de história e ficção no enredo de O Ovo de Colombo que consegue escapar da tentação didática, mais as recentes estreias de A gata Borralheira, em versão nacional e bem humorada, e Passa, Passa, Passará que reedita o trabalho em família de Ana Luíza Job e Antonio Adolpho, de parceria com Xico Chaves e Paulinho Tapajós.
Não é muito original desde João e Maria, a história de meninos perdidos em florestas. A atualização do tema fica por conta da oposição espacial mundo urbano/mundo rural, tão corrente por motivações ecológicas, mas cuja dicotomização a autora procura evitar, passando à plateia a decisão sobre o desfecho. O menino Pedro entre os animais e a natureza sente falta do vídeo, do chiclete e do conforto da cidade grande, enquanto macaco e galinhas se dividem quanto a sua permanência no mato. A questão é desviada para o tema do Tempo, que se desenrola apenas nas letras das canções e no figurino que veste a personagem Natureza, tudo mais, do cenário à iluminação, permanecendo inalterado.
Sendo as estações do ano chamadas a marcar as cenas, não se compreende a omissão quanto ao visual, que tem um momento feliz na perseguição da raposa às galinhas, em que as sombras projetadas acentuam o suspense.
As peripécias do enredo ganham vivacidade com a marcação ágil para as personagens, que com uma série de tiradas atuais e posturas caricatas mexem com o humor da plateia. Ponto alto o desempenho de Ana Borges, menino Pedro, e Mongol, Dom Raposo transvestido de Tio Sam, especialmente na divertida cena de luta em que a esperta saída da autora aciona o Super Pedro onde os super-heróis haviam fracassado.
Mas o espetáculo foi composto como um musical e as canções ocupam boa parte do tempo: letras irrequietas e divertidas em ritmos bastante sintonizados com os textos e, com todos os riscos que isto implica, cantadas ao vivo, o que permite melhor comunicação que o recurso ao playback em que tudo sai certinho porém artificial. Mesmo assim poderia haver certo enxugamento no conjunto, encurtando a duração do espetáculo, pois os menores não resistem a mais de uma hora de atenção concentrada. Como produto mais permanente, resta o disco com a trilha sonora, vendido na saída do teatro.