Geovana Pires, ótima como Arabela, apronta com os personagens de Cico Caseira e Álamo Facó

Crítica publicada em O Globo – Segundo Caderno
Por Marília Coelho Sampaio – Rio de Janeiro – 27.07.2003

 

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Aprendiz de Feiticeiro: Personagens maluquinhos em uma excêntrica história de Maria Clara Machado

Laranjas gigantes contra a fome no mundo

Aprendiz de Feiticeiro, escrito por Maria Clara Machado em 1968, é um texto interessante por um motivo em especial: nenhum dos cinco personagens da peça se enquadra nos padrões sociais de normalidade. Para dizer a verdade, são todos até bem “maluquinhos”. E aí está boa parte da graça do espetáculo dirigido por Lionel Fischer em cartaz no Teatro Maria Clara Machado/ Planetário.

A história de Aprendiz de Feiticeiro se passa no labora­tório do Dr. Uranus, que, empenhado em acabar com a fome no mundo, pesquisa uma fórmula para fazer as laranjas crescerem. Se ele encontra um aliado em seu assistente, Juventus enfrenta a pirracenta oposição de sua neta Ara­bela, que acha tudo aquilo uma chatice. Para movimentar a trama, surgem ainda na peça os personagens Dimitri Nicolai Massachussets, um ladrão internacional de fórmulas, e o Tenente Perseguição, incumbido pelo governo de proteger as descobertas do cientista.

Aproveitando a ausência do avô, que é chamado por um amigo para resolver um problema na África do Sul, Arabela usa todo o seu poder de sedução para convencer Juventus a espalhar a tal fórmula por todos os cantos do labora­tório. A partir daí, coisas mui­to estranhas acontecem ali.

O diretor tira bom proveito dos personagens da peça

No espetáculo, destaca-se a atriz Geovana Pires, que incorpora com muita graça e vigor a transgressora Arabela. O elenco masculino está bem equilibrado: Cico Caseira convence como o cientista maluco, Álamo Facó passa toda a timidez do jovem assistente e Eduardo Vargas diverte como Nicolai Massachussets. Só Fernando Melvin, como o Tenente Perseguição, está um tom acima de seus colegas, o que prejudica seu trabalho.

Na ficha técnica, sobressai-se o cenário de José Dias, que explora muito bem o formato de arena do Teatro Maria Clara Machado. Utilizando poucos elementos, ele chama a atenção das crianças para a colo­rida aparelhagem do laboratório e faz com que o público tenha a sensação de integrar o universo dos personagens.

A iluminação de Aurélio de Simoni, a música de Caíque Botkay e o figurino de Marcelo Marques estão sintonizados com a proposta da direção.

Para que Aprendiz de Feiticeiro fique ainda melhor, poderiam ser feitas algumas alterações nos efeitos especiais da peça. Arabela, por exemplo, poderia ficar gorda por inteiro e não só na barriga, após beber a fórmula; as laranjas gigantes poderiam surgir em número suficiente para preencher o palco; e o gato Ptolomeu poderia aparecer mais vezes por trás do telão (quem sabe a cada miada?), já que o efeito é muito divertido.

De qualquer forma, Lionel Fischer tira bom proveito dos excêntricos personagens de Maria Clara Machado, encenando um espetáculo que tem a qualidade de prender a atenção das crianças durante todo o desenrolar da trama.