Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 25.04.1976

Barra

Andar, andar (…)! em linha reta é fácil errar/naturalmente/ando sem parar.

Andar Sem Parar de Transformar, texto de Maria Luiza Lacerda premiado com o quinto lugar no Concurso de Dramaturgia infantil de Curitiba do ano passado, não chega a ser brilhante, mas, em seu tom singelo, busca transmitir a necessidade de redefinição das coisas e – é claro – da própria vida. Em linha reta, não. É necessário olhar para os lados, para trás, saber escolher os caminhos às vezes até mais longos, porém bem mais ricos. E conhecer os atalhos. E ter disponibilidade para ir e também voltar; para começar a reformular; para concluir, para refazer.

De qualquer forma, a encenação – feita pela própria autora – me sensibiliza mais do que o texto; uma historinha banal, parecida com tantas outras e que demora um pouco a tomar embalo. O espetáculo, todavia, é de extremo bom gosto, e carrega um certo tom mágico que envolve com facilidades a plateia infantil (é certo que envolveria ainda mais se fosse possível obter uma escuridão verdadeira ao invés de simples penumbra, mas o Grupo Revisão, ao receber a Sala Corpo Som “B”, sabia que as condições de funcionamento seriam precárias)

A beleza e o perfeito acabamento das “formas animadas” vêm confirmar o que já havia ficado demonstrado sobre o talento de Chico Aleixo no espetáculo de estreia do Grupo Revisão: Fantasia ou Realidade na música de Pink Floyd. Os bichos são, além de bonitos, muito atraentes para as crianças, despertando-lhes imediato interesse. A boa utilização da luz, do som e da cor cria uma encenação com bastante força visual. E o elenco, muito bem ensaiado, atua com total segurança. Tudo seria muito expressivo, porém, se toda a parte cantada fosse ao vivo (e isso seria uma vantagem inclusive em termos de entendimento do texto musicado).

Andar Sem Parar de Transformar, é um espetáculo que se recomenda com prazer aos pais de crianças menores. Sem ter a força explosiva de Fantasia ou Realidade… a atual montagem do Grupo Revisão é cheia de charme e agrada a plateia infantil. E não apenas agrada como estimula criativamente, ao deixar claro, no final, que tudo aquilo pode ser feito por qualquer um.