Crítica publicada em O Globo
Por Clovis Levi – Rio de Janeiro – 12.09.1976
Vamos fazer bagunça?
Ambrósio, o Boneco, em cartaz no Teatro Cacilda Becker, é um espetáculo bem realizado, com direção segura de José Roberto Mendes e um elenco firme liderado por Betty Erthal – atriz que a cada trabalho vem mostrando sensível progresso. A montagem do grupo Feira-Livre é inteligente e consegue minimizar certas obviedades do texto de José Luiz Rodi (na briga entre os seres humanos, o boneco é quem tem a atitude adulta) e certas mensagens um tanto deformadas (os patrões não se arrependem a partir da conclusão de que estavam agindo errado e sim porque perceberam que o boneco, ao invés de trabalhar, só fazia baderna). De qualquer forma, o texto permite um bom espetáculo e José Roberto Mendes se aproveitou muito da linguagem musical, utilizando números de coreografia e canto de modo expressivo.
As crianças têm muita coisa a curtir nesta encenação, destacando-se a cena da bagunça – um eficiente desrecalque para meninos e meninas que vivem dentro de casas arrumadíssimas onde não podem mexer em nada: ou para aquelas crianças onde até em seu próprio quarto tudo tem que estar nos devidos lugares, com um chão eternamente limpo.
Além de Betty Erthal, o elenco conta com Aline Molinari, Lais Dória, Alexandre Marques e Darvin Convê – todos firmes, sabendo o que dizem e o que fazem. O casal de namorados, entretanto (Lais e Alexandre) poderia ter um comportamento mais solto. O próprio estilo da montagem permite uma interpretação menos tímida, mais livre. Aline Molinari é um boneco bastante comunicativo e que traz uma boa dinâmica para o espetáculo. Darvin Convê, mesmo baseado numa composição muito de fora para dentro, também cria uma relação comunicativa com o público.
Ambrósio, o Boneco, em cartaz no Cacilda Becker, é uma encenação artesanalmente bem realizada e onde as crianças se divertem.