Crítica publicada em O Globo, Rio Show
Por Mànya Millen – Rio de Janeiro – 10.05.1998
Amaralinda: Aparato visual valoriza o texto frágil
Fôlego multiplicado pelos muitos recursos cênicos
A mais nova peça da Companhia de Teatro Artesanal, Amaralinda, em cartaz do teatro do Museu da República, é um bom exemplo do que enfeites criativos e bem usados podem fazer por um texto de pouca robustez. Se espremida, a história simples escrita por Gustavo Bicalho renderia parcos minutos de narrativa. Como o diretor, porém, o próprio Bicalho encarregou-se de multiplicar o fôlego de seu texto, usando e abusando de muitos recursos cênicos , de bonecos de variadas formas e técnicas a cenários criados através da projeção de slides e preciosos truques de iluminação, a cargo do expert Djalma Amaral.
Tanta técnica, é verdade, por pouco não cria uma perigosa armadilha para o espetáculo, pois às vezes a história em si parece totalmente secundária. A sensação é a de que, no afã de conquistar a plateia, o grupo resolveu lançar mão, só que ao mesmo tempo, de todos os recursos sabidamente sedutores de público.
Mas o perigo é contornado e o resultado é um espetáculo singelo e poético, marca registrada da companhia, valorização por bonitas imagens. Tudo gira em torno da paixão entre o jovem pescador Quinho (Dílson de Souza) e a bela Amaralinda (Daniela Canavelas). Ele é pobre; ela rica, e o pai da menina (Ronaldo Reis, ótimo como o bronco personagem), insuflado pelo afilhado almofadinha (Henrique Gonçalves, igualmente engraçado), decide fazer entrar água no romance dos dois. E propõe um desafio: aquele que levar o presente mais rico para a filha se casará com ela.
Enquanto procura o presente pescador encontra personagens curiosos como um índio sidudo, uma sereia feia e aflita por um namorado e peixes que protestam contra a poluição causada pela empresa do pai e Amaralinda. Todos eles bonecos e manipulados com graça pelo próprio elenco (a cena do fundo do mar encanta a platéia). Mesmo com algumas quedas de ritmo, a peça se revela uma boa diversão.