Cena do espetáculo Agora Eu Era o Herói. Foto: Ana Helena Lima

Crítica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 02.05.2014

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Companhia UM: uma promissora revelação

Com Agora Eu era o Herói, escrito e dirigido por Rodrigo Audi, teatro infantil de São Paulo ganha um novo e competente grupo

Que bom que, volta e meia, surge um novo autor e diretor de teatro para crianças. Alguns se estabelecem, outros apenas vivem aventuras bissextas, bem esporádicas. Tomara que a Companhia Um, recém-surgida sob a iniciativa do diretor e autor Rodrigo Audi, tenha chegado para ficar definitivamente nesse cenário vespertino cada vez mais preparado e bem representado. Em cartaz apenas aos domingos com a peça Agora Eu era o Herói, Audi – que já atuou como braço direito de grandes diretores, como Antunes Filho e Gabriel Villela – e a Cia Um entram pela porta da frente, sem fazer feio, nesse universo mágico do teatro infantil.
O texto de Agora Eu Era o Herói é forte, pleno de simbologias, diálogos bem construídos, demonstrando bastante preparo e um cuidado especial com a síntese. O espetáculo não passa dos 50 minutos. Também é bastante poético, não só pelo uso das palavras certas, mas pela direção bem pensada, quase coreografada, com muita plasticidade nas marcações cênicas. E não há muitos recursos: tudo é muito simples no palco, com um visual limpo e poucos elementos em cena.

Uma menina de circo (a expressiva Rita Pisano) convida um garoto tímido (o ótimo Hércules Morais), tipicamente urbano, para seguir ao lado dela, em turnê pelas cidades, mas falta coragem e iniciativa a ele, afinal ainda é uma criança e, claro, seus pais não permitiriam. Na verdade, nada do enredo pode ser encarado assim de forma realista. Melhor é ver a peça como fragmentos de sonhos, brincadeiras de criança, fantasias infantis que todos nós já vivenciamos. São lindas as cenas de flerte pueril entre os dois, até que peguem na mão um do outro. Escolhas, medos, separações – são temas que perpassam o espetáculo com muita delicadeza e eficiência. Marcelo Diaz completa o trio de atores, como um narrador de boa dicção e carisma.

Há em certos momentos um problema de equilíbrio entre as questões do universo infantil e as referências do mundo adulto. Peças para crianças também devem ser atraentes para seus pais. Isso é inquestionável. Mas é uma equação complexa de lidar. Por exemplo: só os pais vão reconhecer as fotos de Cacilda Becker, Tonia Carrero e outras grandes atrizes do Brasil, na cena em que nomes de deusas gregas são listados. Isso não chega a afetar a fábula que está sendo contada, mas, para as crianças, a cena pode não funcionar muito, ainda que a ideia desses tributos seja linda e encante os adultos. De toda forma, o caminho é mesmo esse. Fazer, fazer, fazer – para acertar mais do que errar. Temos uma promissora revelação no circuito de teatro infantil paulistano. Para ficar de olho.

Serviço
SESC Vila Mariana
Rua Pelotas, 141, Vila Mariana
Tel. 11 5080-3000
Sempre aos domingos, às 15h30
Ingressos a R$ 12,00 (inteira)
Até 18/05