A peça está no Teatro Aplicado, aos sábados e domingos

Crítica publicada na Folha de São Paulo
Por Tatiana Belinky – São Paulo – 13.06.1981

Para um Público Encantado e Atento

O bom teatro amador do veterano Grupo Teatral Itaú está de volta a São Paulo trazendo a sua nova contribuição à temporada infanto-juvenil paulistana, que já vai adiantada, com mais de vinte espetáculos em cartaz simultaneamente, entre estreias e remontagens, boa parte dos quais de recomendável qualidade, e entre os quais este Adeus Fadas e Bruxas pode se inscrever tranquilamente.

Trata-se de um texto premiado, do sensível Ronaldo Ciambroni, encenado aqui alguns anos atrás com muito sucesso, e que agora já pode contar com uma nova safra de crianças para curti-lo. A peça, como o nome já sugere, pretende discutir as razões por que as crianças de hoje não gostariam mais, teriam se esquecido, das fadas, bruxas, ogres, magos, feiticeiros e até homens-de-lata, das velhas histórias maravilhosas, os chamados contos-de-fadas.

E dá a entender que esse pretenso desinteresse se deve às maravilhas do mundo moderno, onde a bicicleta substitui o corcel, o automóvel e a carruagem, o brinquedo mecânico, a gostosa bricolagem, etc, etc.

Mas é justamente isso, a presença daqueles personagens “antigos”, que faz o charme desse espetáculo, cuja história se passa no reino da Encantália, com nada menos de quinze personagens mágicos em cena: três fadas e três bruxas, três duendes e três feiticeiros, mágico, príncipe e arauto. Todos eles criando o clima de magia e fantasia de que as crianças tanto gostam, e de que tanto precisam para o seu desenvolvimento emocional e intelectual.

Na peça, esses personagens se reúnem para discutir os seus problemas de rejeição, e observam, invisíveis, um grupo de crianças a brincar com bicicletas e um engraçado robô teleguiado que anda e fala e lhes prega grandes e cômicos sustos. E chegam à melancólica, e errônea, conclusão de que estão superados. O que importa é que se trata, no caso presente, de um autêntico conto-de-fadas, mostrado à moderna, com todos os ingredientes clássicos, só que em chave cômico-crítica.

Quanto ao espetáculo trata-se de uma produção muito bem cuidada, com o (bom) cenário ocupando o palco inteiro, coisa incomum no nosso teatro infantil, em vários planos, permitindo uma movimentação dinâmica e variada.
Com bonitos efeitos de iluminação criando o clima de fantasia, guarda roupa “tradicional” vistoso e colorido, e com músicas e letras especiais, entusiasticamente cantadas e dançadas por todo o elenco. E contando com a direção firme, meticulosa e bem-humorada de Herton Roitman, que consegue um rendimento apreciável do grande grupo de jovens amadores, na marcação nítida de todas as “personalidades”.

O resultado é um público (a casa estava lotada) encantado e atento, só se ouvindo o típico zumzum do desinteresse infantil em um momento, já no fim, exatamente quando os personagens se põem a filosofar, felizmente só um pouco, sobre os males do mundo moderno e a suposta perda da imaginação infantil, conversa de adultos. Adeus (adeus?) Fadas e Bruxas é um espetáculo bonito, de boa qualidade, bom programa para crianças do pré primário em diante.

Adeus Fadas e Bruxas
Texto e Músicas de Ronaldo Ciambroni
Direção e Figurinos de Herton Roitman
Cenários de Rodrigo Cid
Com elenco de quinze atores
No Teatro Aplicado
Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, 931
Sábados e Domingos às 15 horas
Cr$ 100 e Cr$ 50
Até 1º de julho