Crítica publicada no Estado de São Paulo
Por Rui Fontana Lopez – São Paulo – 11. 07.1981
Iniciativa Teatral que deve ser estimulada e seguida
Adeus Fadas e Bruxas, musical infanto-juvenil de Ronaldo Ciambroni com direção de Herton Roitman, é a mais nova montagem do Grupo Teatro Itaú, em cartaz no Teatro Aplicado. Trata-se de um espetáculo cheio de qualidades e virtudes, uma proposta de trabalho das mais admiráveis.
O grupo é uma iniciativa do setor cultural da Fundação Itaúclube; são mais de vinte pessoas, todas elas funcionárias do Grupo Itaú, que em suas horas de folga desenvolvem um respeitável trabalho de teatro amador infantil e adulto. Criado há cerca de três anos, as realizações do Grupo Teatral Itaú tem merecido elogios da crítica especializada e razoável sucesso de público. Dirigido por Herton Roitman praticamente desde sua criação, o grupo é uma iniciativa que ocupa importante lugar no panorama do teatro amador paulista, podendo servir de inspiração e estímulo ao surgimento de outras propostas dessa mesma natureza.
A peça baseia-se numa indagação oportuna e muito divertida: por que as crianças de hoje se encontram tão afastadas das tradicionais estórias de fadas e bruxas, que já fizeram o encanto da infância dos adultos durante tanto tempo? Para responder a essa questão e tomar as providências cabíveis, os seres encantados, uma porção deles, resolvem reunir-se em assembleia na Floresta Encantalha.
Depois de muitas peripécias, brincadeiras, ciúmes e intrigas entre os personagens fantásticos, cada um querendo ser mais mágico que o outro, é descoberta a razão de seu esquecimento pelas crianças: esta é a época dos super-heróis, dos robôs e dos brinquedos eletrônicos. O simples jogo de imaginar, inventar, ouvir e contar estórias foi deixado de lado e esquecido, devendo ser recuperado: os seres encantados serão os grandes artífices desse resgate.
A estória é contada de maneira alegre, bem humorada e bastante fluente e tem a virtude adicional de não proferir juízos de valor a respeito do que é melhor ou pior como divertimento: todos eles divertem e podem ter seu lugar. A direção sublinha acertadamente o bom humor do texto, conseguindo criar um espetáculo dinâmico, interessante e cheio de vida. À exceção da trilha e da direção musical, resolvidas de maneira insatisfatória tanto pela escolha das músicas quanto pelo uso do play back, a montagem é bastante boa.
O elenco amador apresenta um rendimento que muitos grupos profissionais não chegam a alcançar: seu desempenho é enérgico, entusiasmado e cheio de vitalidade. Cenários e figurinos, bonitos, bem executados e muito coloridos, conferem ao espetáculo um permanente clima de festa e alegria. Por tudo isso Adeus Fadas e Bruxas é uma ótima escolha teatral para o público infantil.