Crítica publicada no Jornal da Tarde
Por Clóvis Garcia – São Paulo – 11.07.1981
A Importância dos Contos de Fada, Revista e Confirmada nesta Montagem
Quando, há cerca de oito anos, foi encenada a peça de Ronaldo Ciambroni, Adeus Fadas e Bruxas, o seu tema era novidade e provocou interesse. A invasão eletrônica nos brinquedos infantis, a massificação do lazer das crianças, a televisão, as histórias em quadrinhos pareciam ter relegado ao esquecimento o mundo da fantasia, personificado pela tradição das histórias infantis, ainda que os super-heróis modernos pertençam também a esse mundo. Ciambroni, colocando a trama sob o ponto de vista dos personagens abandonados, num país imaginário, deu um enfoque original ao texto e procurou uma solução conciliatória acertada. Por outro lado, a peça se apresentava como uma resposta aos que, na época, condenavam totalmente os contos de fada, como alienantes, em nome de um realismo mal entendido. Claro que é preciso mostrar à criança o mundo real, em que ela está inserida, mas a fantasia é elemento essencial não somente para as crianças como para os adultos.
Hoje a discussão parece estar superada, especialmente depois do livro do psicólogo norte-americano Bruno Bettelheim, The Uses Of Enchantement: the meaning and importance of fairy tales, publicado em português como: A Psicanálise dos Contos de Fadas. Mas, ao rever a peça de Ciambroni, agora numa montagem do Grupo Teatral Itaú, o texto continuou com sua atualidade além das qualidades cênicas.
E seria interessante um estudo das relações entre o mundo bancário e o teatro, não somente como temática de peças, como pelo grande número de atores que são bancários e, principalmente, pelas organizações bancárias que incentivam o teatro. O Itaú, ou melhor, a Fundação Itaú-Clube, vem mantendo uma atividade teatral meritória seja para adultos, atualmente com Lisistrata, depois do sucesso de Gimba, seja para o público infantil.
A montagem dirigida por Herton Roitman, responsável pelas encenações do grupo, transpõe para o palco o texto numa bela apresentação visual. O cenário de Rodrigo Cid é imaginoso e colorido, os figurinos do diretor são criativos, além de uma acertada iluminação, uma movimentada coreografia de Carolina Lobianco. A música de Ronaldo Ciambroni foi bem aproveitada. Mas o diretor conseguiu, ainda, um bom rendimento por parte dos intérpretes amadores, onde se destacam algumas vocações, como Ana Maria Salles, expressiva e à vontade no palco, Francisco Rossi, sem dúvida experiente, Braz Gomes, com a virtude de estar sempre dentro do papel mesmo quando apenas figura na cena, e alguns mais.
Um espetáculo de qualidade que obteve sucesso justificado junto ao público, tanto que a temporada que deveria terminar dia 12 será prorrogada, no mesmo teatro ou em outro.