Critica publicada no Site da Revista Crescer
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 25.09.2015
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A solidão de um pinguim como metáfora da vida

Cia. de Feitos faz de Achados & Perdidos uma lição de criatividade cênica, brilhando com múltiplas linguagens e um tema inusitado

Completando cinco anos em plena atividade, a Cia de Feitos está em seu terceiro espetáculo para crianças, sempre escolhendo temas fortes, inusitados, ousados, “supostamente espinhosos”, como eles dizem. O primeiro foi O Pato, a Morte e a Tulipa, baseado em livro do autor alemão Wolf Erlbruch, que punha em cena a personagem da morte. O segundo foi Selma, baseado em livro da alemã Jutta Bauer, com a proposta de responder a uma questão que atiça os jovens: o que é a felicidade? Agora, o grupo está em cartaz com Achados & Perdidos, baseado em livro do irlandês Oliver Jeffers. O assunto sisudo desta vez é… a solidão.

Trata-se de um grupo de muita personalidade, que nesses cinco anos construiu uma ‘cara’ própria, bem particular, cultivando nos três espetáculos uma mesma linguagem bem coerente e criativa. Sonoplastia ao vivo com DJ, canções executadas também ao vivo (o luxo de manter uma banda em cena), dramaturgia voltada basicamente para o teatro narrativo e uma cenografia sempre rica em objetos e adereços que ‘falam’, ou seja, que ajudam a contar a história de forma inusitada e atraente para todas as idades.

Há tudo isso em Achados & Perdidos, uma delícia de espetáculo, com um frescor cênico capaz de atrair tanto o irmãozinho mais novo quanto o adolescente mais rabugento da casa. O que você faria se um dia acordasse, abrisse a porta de sua casa e se deparasse com um pinguim de verdade, vivo, ali parado, à espera de ser cuidado? O menino da peça resolve começar pela sessão de “achados e perdidos” de seu bairro e lá se depara com dois funcionários hilários, maluquinhos até não mais poder. O jogo de palavras entre eles é estimulante, rico, altamente simbólico e alegórico. Sensacional. Teatro feito com muita inteligência e sem subestimar a criança.

O lance vai ser viajar ao polo sul para devolver o pinguim à sua terra natal. Mas é isso o que ele quer mesmo? E o menino? Vai viajar em busca de si próprio, claro. É tudo bem metafórico, sem perder o tom de graça. A cena da tempestade de neve é uma das mais bonitas da atual temporada de teatro para crianças. Não só pelos efeitos simples que ganham uma eloquência incrível, mas pelo casamento com a trilha em uma canção linda, harmoniosa com a trama, envolvente – na voz de muitos recursos da atriz Paula Mirhan. É o ponto alto da peça, a meu ver.

No elenco estão todos igualmente bem: Artur Kon, Carla Massa, Giscard Luccas, Paula Mirhan, Paula Serra e Rui Barossi. Direção e dramaturgia são de Carlos Canhameiro (aplauso de pé!). Destaque também para os bonecos, assinados por Rita Elias Mouro. Não perca por nada, ao contrário, vá se achar em Achados & Perdidos.

Serviço

Teatro Cacilda Becker
Rua Tito, 295 – Lapa
Tel. 11 3864-4513

Sábados e domingos, 16h
GRÁTIS
Até 18 de outubro