Crítica publicada no Correio da Manhã
Por Moysés Duêk – Rio de Janeiro – 21.10.1948
Os Novos Críticos: O Encantamento do Casaco Encantado
Num excepcional ambiente de festa, teve lugar o “preview” de O Casaco Encantado. A plateia assistiu ao surgimento – coincidindo com a consagração – de um novo autor – a Sra. Lúcia Benedetti – e ao mesmo tempo pôde constatar a versatilidade da Sra. Morineau e de seu conjunto.
O espetáculo tem o delicioso sabor das velhas histórias de infâncias que os anos vão soterrando sob o peso das desilusões. Lá estava o Reizinho, grave, majestoso, sereno, justiceiro: lá estava a Princesa, branca e loura e bondosa: lá estava a Bruxa, egoísta, milenária, cheia de recursos secretos.
A história é imaginosa e cheia de envolvente encanto. Ouvimo-la da boca da Vovózinha com atenção e assistimo-la com beatitude ou em francas gargalhadas.
José vive o Sr. Dary Reis, e bem o moço louro das histórias medievais. João, no Sr. Graça Melo, se não encontrou identificação física, teve ao menos boa expressão. A Sra. Morineau deu-nos uma deliciosa Bruxa numa exemplar caracterização, de cabelos vermelhos, chorando por ter quebrado a sua vassoura alada. O Sr. Jacy Campos teve uma esplêndida caracterização no solene Rei; causou grande surpresa o resultado que logrou obter com artifícios. O Relógio encanta pela sua simplicidade, humanizando-se na interpretação do Sr. Nilson Pena, feliz decorador e signatário dos figurinos. A Sra. Maria Castro esteve uma vovó doce, meiga. O Sr. Fregolente teve mais uma boa interpretação e o Sr. Graça Melo uma espantosa caracterização no impiedoso Bruxo.
A partitura musical parece surgir de saudosa caixa de musica. Acredito que a história da Sra. Lúcia Benedetti leve multidões liliputianas ao teatro Ginástico. E não apenas os pequenos espectadores vão se deliciar com esta encantadora aventura artística, bem como os seus pais, tios, padrinhos, chaperones, etc. etc.