Nádia (E), Carmo, Luana, Fernando e Renato estão no elenco da peça que atraí de jovens a cinquentões.
Foto Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 07.09.1996

Repetição de estilo agrada em cheio 

Franncis Mayer, diretor e produtor de Nó de Gravata, espetáculo em cartaz no Teatro Cândido Mendes, sem dúvida nenhuma descobriu o seu estilo de fazer teatro. Melhor ainda, no teatro de Franncis Mayer, a plateia está sempre cheia e satisfeita com o que assiste. Não importa que os temas muito pouco se alterem e que a estética cultuada seja a clássica entre quatro paredes. Aliás, esse deve ser o motivo pelo qual o público prestigia o diretor. Espetáculo confortável, um pouco de conflito familiar, algumas questões sobre sexo e, é claro, um inevitável happy end. Temática conhecida. Público feliz.

Sempre revezando os mesmos os mesmos autores Ilder Miranda (Teen Lover e Namoro) e Miriam Bevilacqua. (Se você me ama), e mantendo no jovem elenco um outro ator recém-saído de alguma novela da TV, Mayer constrói seus espetáculos no modelo dos seriados. Como marca pessoal, apresenta o elenco ao som de alguma trilha musical, supostamente já conhecida da plateia. A estratégia que se repete imediatamente traz ao espectador a lembrança dos espetáculos anteriores. Aqueles que eles já viram e gostaram. Por que não gostar desse também? No desafio sai ganhando o diretor.

O texto de Miriam Bevilacqua, que em Se você me Ama trazia a cena um pai, seus filhos e seus problemas, troca em Nó de Gravata o pai pela mãe, mas os filhos e os problemas continuam. Dessa vez, porém, a temática não é o conflito de casais, mas o preconceito encenado e devidamente solucionado. Dona Marília (Nádia Lippi) é divorciada e sustenta sozinha os filhos, Fernanda (Luana Piovanni) ainda esta na escola, mas Matheus (Carmo Dalla Vechia) tem entrevista marcada para o seu primeiro emprego. Emprego este que perde porque ao sair de casa para pedir a seu amigo Alexandre (Fernando Pavão) uma gravata, encontra o rapaz beijando um outro rapaz. Isso é só o começo, para que se desvende a trama familiar classe média em suas emoções contidas.

Franncis Mayer recupera a jovem plateia o espetáculo gabinete, com cenários realistas, onde não falta em cena nem o uísque que se tomava nas comédias ligeiras dos anos 60. O espetáculo acaba levando ao teatro quarentões e cinquentões, que, mesmo sem a desculpa de estarem lá para a acompanhar seus filhos, comparecem ao revival sem a menor cerimônia.

Nó de Gravata, feito por e para adolescente, é um espetáculo de situações, construído em cenas bem cortadas, na medida exata da emoção, que dele se espera. O tema principal – o homossexualismo – se dilui em tramas paralelas, para que se revelem outras maneiras de se discutir o assunto. Com cinco versões sobre o mesmo tema é impossível não acertar. Seu grande trunfo, no entanto, não está no texto, na atuação do elenco ou na ambientação. Mas na coragem de investir num estilo, para muitos anacrônicos, que, apesar de tudo, cumpre a sua função: levar o público ao teatro.

Cotação: 2 estrelas (Bom)