Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 13.04.1995
Um retorno aos anos 60
A maioria dos apreciadores dos filmes ambientados nos anos 60 ficam tão fascinados com a vida colorida dos personagens da tela que raramente percebem a inconsistência dos enredos. A fórmula invariavelmente repetida – moça encontra rapaz, moça perde rapaz, moça encontra rapaz novamente e são felizes para sempre – fizeram de Grease – Nos Tempos da Brilhantina, Porky’s ou Peggy Sue – Seu Passado a Espera e outros grandes sucessos de bilheteria. No teatro, porém, com raríssimas exceções, fica bem mais difícil reproduzir a era do milk shake, sem os recursos milionários do cinema.
Sonho Dourado, texto de Marcelo Caridad e Marcelo Miranda, não foge da receita habitual. No final do curso do Colégio São Virgílio, a velha turma faz seu último encontro, antes de encarar maiores responsabilidades com a vida adulta. Em cena, a mocinha sonhadora tenta descobrir quem lhe escreve poesias açucaradas, para que ele se torne seu único e verdadeiro amor. O mistério acaba diluído em função dos personagens de apoio, que se revelam muito mais interessantes. A gorda resolvida, o aspirante a cantor de rock, a bad girl, a feia, o galã, o virgem, o desenturmado e a que se prepara para ser uma superprofissional acabam ganhando a simpatia da plateia. Esses personagens, a princípio tão óbvios, são na verdade tudo o que se espera encontrar numa idealizada turma feliz dos anos dourados.
A direção de Marcello Caridad para atores jovens, e provavelmente não tão apaixonados pela época quanto ele, privilegia as cenas de conjunto e os números musicais. Assim, a ida ao cinema para ver Tarde Demais para Esquecer, a produção do ambiente de praia segundo o modelo dos filmes de Frank Avallon, ou a citação ao antigo programa Brotos 13,acompanhados das coreografias de Caio Nunes, tornam-se os grandes momentos do espetáculo. Nos solos de interpretação ocorrem algumas boas surpresas, como a participação de Vinícius Mane, que até então vivia apenas galãs previsíveis. O trio Marco Rodrigo, Leandro da Matta e Bruno Marques é um trunfo fortíssimo para as cenas de humor. O papel mezzo vilão, mezzo mocinho de Luciano Rabello acaba prejudicado no palco. Na ala feminina, Cláudia Rodrigues resgata a autoestima das gordinhas em personagem que ultrapassa os limites do tipo físico, Lyla Collares faz a loura burra sem exageros na caricatura e Clarissa Freire empresta sua natural desenvoltura a um papel de poucas intervenções. Marcela Altberg, porém, está pouco a vontade como a mocinha, e Daniela castro desperdiça o melhor do mau humor na feiosa da classe.
As músicas de Marco Rodrigo seguem o estilo rockabilly, quase chegando a jovem guarda. A defasagem da época não compromete a ambientação, dando um colorido bastante interessante ao musical. Além das composições originais, a turma do São Virgílio dança ao embalo de Cely Campelo, Beach Boys, Flash Cadillac e outras preciosidades. A iluminação de Djalma Amaral transforma rapidamente um palco quase nu em múltiplos ambientes – com destaque para o cinema, em que a luz da tela reflete-se no rosto dos atores, e para a praça ensolarada.
Sonho Dourado é uma encenação para fãs de filmes de época, que acreditam na importância de embarcar no túnel do tempo. O espetáculo oferece, além de romance e rock and roll, a possibilidade de passar pelo menos uma hora sem pensar na vida real. É uma chance e tanto.
Sonho Dourado está em cartaz no Teatro Barra Shopping, as quintas e sextas (21h), sábados (20h30 e 22h30) e domingos (20h30). Ingressos a R$ 15.
Cotação: 2 estrelas (Bom)