O ator mirim Gabriel Mergulhão vive o príncipe ao lado de Alzira Andrade e Sérgio Soares.
Foto Guga Melgar

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 06.02.2000

 

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Pequeno grande ator

Escrito por Antoine Saint-Exupéry no final dos anos 30, O Pequeno Príncipe tornou-se um sucesso no Brasil duas décadas depois. Suas principais divulgadoras foram, sem dúvida nenhuma, as representantes da beleza nacional. Na época, além dos obrigatórios 90 de busto, 90 de quadril e 17 de tornozelo, Miss Brasil de respeito citava Saint-Exupéry. A frase favorita era: “Tu és eternamente responsável pelo que cativas”. Um luxo para as passarelas do Maracanãzinho. No centenário do escritor francês, a obra volta ao palco das crianças, no Teatro Vanucci. Meu Pequeno Príncipe, livremente adaptado por Eduardo Bruno, não é teatro de mensagem ou mesmo estética revolucionária. O texto poético foi trocado por uma trama aventuresca, onde se aproveita os personagens do livro para montar uma historinha de começo, meio e fim. Tudo muito correto, sem invenções ou pirotecnias. A história corre linear, os personagens se apresentam em textos curtos e deixam o palco com o sentido de dever cumprido.

A direção de Eduardo Bruno divide a peça em cenas estanques e bem desenhadas, mas a atuação burocrática da maioria do elenco só não faz cair o ritmo da encenação, por que no palco brilha, a estrela maior do protagonista. Gabriel Mergulhão do alto dos seus sete anos é o Pequeno príncipe que encanta a plateia como há muito não se vê no teatro.

Com o texto quilométrico não apenas decorado, mas interpretado além do que se espera de um jovem ator, Gabriel vive seu personagem com desconcertante naturalidade. A plateia cativada sinceramente se emociona com o que está no palco. Em participação especial, o ator Roberto Bomtempo contracena em igualdade com Gabriel, deixando que o jovem ator comande grande parte da ação, ou mesmo conserte algumas marcas. Uma generosidade só possível a atores muito seguros de sua arte.

O espetáculo, ainda com entraves operacionais, faz teste no palco e formula a luz de Fernando Albano para dar maior efeito às cenas de ação. O cenário de Teka Fichinsky também sofre cortes ficando em cena apenas o bem desenhado deserto e o avião cenográfico, já de grande impacto. Os figurinos de João Gomes, Diana Galvão e Cláudia Mello vestem o elenco na leveza da fábula.

Meu Pequeno Príncipe, que tem ainda música do super craque Ubirajara Cabral, é um espetáculo que está se acertando no palco para ser apresentado a seu público como merece. Superando a falha técnica, o pequeno Gabriel, um príncipe de real majestade, já levanta a plateia ao final do espetáculo. O aplauso é sincero.