Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 27.02.2000
Suingue do bom sobre o telhado
Maria Lúcia Priolli, autora e diretora do espetáculo Brincadeiras da Gata Maria, em temporada no Teatro Rubens Corrêa, é também a gata de Os Saltimbancos, que está completando oito anos de bem-sucedida carreira. De tanto estar no palco com a felina, Maria Lúcia vestiu de vez o personagem e montou um show interativo para crianças com cantigas de roda e outras canções. Todas de roupa nova, ou melhor, suingadas, como costumam chamar os gatos / músicos desta performance.
Ambientada num telhado, com uma enorme meia lua que desce do teto, Ricardo Graça Mello, o Rick Gato, está no baixo, Fábio Lira, o Julião Gatão, no violão, e Felipe Priolli Dylong, o Lipe Gato, na guitarra. O trio animado, além de excelente performance musical, contracena com a Gata Maria em humor bem dosado. De resto, o palco é da gata, que lá de cima comanda o espetáculo.
São 20 crianças em cena, num coral bem afinado que não só canta e dança como também estende a brincadeira pela plateia. Aliás, nesse show, a meninada fica bem à vontade, podendo participar do espetáculo sentada nas suas cadeiras ou no palco, cantando e dançando com o elenco. O convite começa na porta, quando as crianças são maquiadas de gatinhos e ganham orelhas. Apenas as bem pequenas podem se intimidar com tanta agitação, mesmo assim acompanham bem as músicas cantadas e conhecidas.
Com novos arranjos, assinados por Ricardo Graça Mello e Flávio Lira, estão no palco, entre outras, Marcha Soldado, Aí, Eu Entrei na Roda, Meu Limão, Meu Limoeiro, Eu Sou Pobre, Pobre e Escravo de Jô, esta última num ritmo bem marcado pelos atores, que descem do palco e jogam com a plateia. Ainda no repertório, o Pedalinho, de Bia Bedran.
Mesmo com canções muito conhecidas. Brincadeiras da Gata Maria não é exatamente o que se poderia chamar de um espetáculo de resgate da cultura popular. E este talvez seja o seu acerto. Em novos tempos, tão eletrônicos, essa releitura dos clássicos no formato mais para programa de auditório do que para os antigos quintais, pegou o público no seu habitat natural, Gatinhos e gatinhas da novíssima geração não deixam de aprender as canções que suas mães e avós não esqueceram. Mas com outro ritmo, e certamente numa brincadeira diferente. Para os puristas, uma heresia que cai certinho no gosto da plateia.
Como indicação de dupla jornada teatral, a melhor escolha é ficar para assistir, logo em seguida, a Os Saltimbancos, este clássico imbatível que continua lotando o Teatro Rubens Corrêa, mesmo depois de visto e revisto na longa temporada, desde a sua estreia, em 1992. O texto está completando 21 anos e não tem sol de Ipanema que tira o público do teatro. Um desses mistérios teatrais que nem é bom explicar. Vida longa aos bichos.