Ine Baumann e Ludoval no clássico
de Érico Veríssimo.
Foto Silvana Marques

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 20.02.2000

 

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O Brasil no palco

Escrita em 1942 por Érico Veríssimo, As Aventuras de Tibicuera, em cartaz no Teatro do Planetário, é dos mais queridos textos da classe teatral gaúcha. Muito antes do surto patriótico que assola o país, a história do índio que acompanha os mais importantes acontecimentos brasileiros, do Descobrimento à Independência, vem sendo encenada há pelo menos uma década no Rio de Janeiro, no circuito escolar. Chegar agora ao palco para dos 500 anos é mais do que ensaiando e oportuno.

Ludoval Campos e Ine Baumann, autores da adaptação para teatro, recortaram o texto que se estendia até o ano de sua criação (1942) e optaram por contar a história em cenas estanques que começam com a chegada de Cabral e passeiam por outros acontecimentos, como a criação das capitanias hereditárias, governos gerais, invasões francesas e holandesas, carnaval, Inconfidência Mineira, chegada da família real ao Rio. Ao contrário de outras produções que apostaram no tema pela contramão da história, focando o cotidiano do homem comum, como tem feito os novos historiadores, esta é uma peça de fatos históricos, como se aprendia e se esquecia na escola. Passado o impacto do “só sei que nada sei”, a vontade que fica é de descobrir também o Brasil.

Mas se o texto corre difícil par os menos atentos e sabedores da história oficial, a montagem é recheada de atrativos. Nara Keiserman usa em sua direção as mais variadas técnicas teatrais. Pelo palco do Planetário um enorme telão se estende para apresentar o teatro de sombras vivas e animação de objetos. Fantoches de fio e de vara são manipulados pelo elenco, que também se vale da técnica da máscara para tornar a trama mais atraente. Mais do que isso, está em cena um protagonista de primeira.

Ludoval Campos no papel de Tibicuera, o índio que está em todos os acontecimentos, é um ator cheio de recursos, tanto para o tempo da comédia como para a arte do contador. Acompanha o ator um elenco bem ensaiado, que cumpre corretamente os muitos personagens da história. Mesmo assim a empatia do público é toda centrada no protagonista.

As Aventuras de Tibicuera é um espetáculo de bom apelo visual, tanto na técnica teatral utilizada como nos elementos que adereçam a trama, como, por exemplo, os figurinos de João Gomes, criados na linha bem-humorada da citação. Mais cuidado tem que ter o iluminador Guiga Enéas, que vasa a luz na apresentação dos bonecos de manipulação. Um pequeno detalhe a ser acertado. No mais, tudo é história.

Cotação: 2 estrelas (Bom)