A Trupe Fabulosa no Sesc de Copacabana: espetáculo de simplicidades com casa lotada.

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 02.07.2000

 

 

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História certa contada na hora exata

A crise financeira que se arrasta há pelo menos três anos no palco do teatro infantil fez com que muitas companhias estáveis fossem procurar outros palcos e saíssem pelo país à procura do teatro patrocinado ou, melhor ainda, dos espetáculos vendidos.

O reverso também é verdadeiro. Assim, os espaços vagam na cidade foi ocupado por produções em viagem que, além da cara e da coragem, trouxeram também seus talentos.

A Roupa Nova do Imperador é um desses casos. A Trupe Fabulosa, formada por quatro atores e dois músicos paulistas, depois de cumprir o circuito do SESC de seu estado, aportou literalmente de malas, bagagens e biombo no palco circular do Teatro SESC Copacabana, e pela resposta imediata do público, que há muito não comparecia aquela casa de espetáculos, de lá não vai sair tão cedo. A receita do sucesso também nesse caso não se explica.

O texto de Andersen, já conhecido e completamente atual, ganha nesta versão, além da música ao vivo, contornos de humor muito atuais, que só aproximam a plateia do conto. O imperador, vaidoso, como qualquer um desses que estão nas charges políticas dos jornais, se enrola tanto no seu compromisso com a futilidade que acaba caindo no conto dos espertíssimos alfaiates, que lhes vende o nada como se fosse o essencial. Tudo vai bem até a plateia constatar que “o rei está nu”. Catarse geral, com direito a bolinhas de papel (distribuídas pela produção) diretas em cima do imperador. A máxima é eterna e nunca foi tão verdadeira como nos dias atuais.

A história contada sem muitas invenções e sem o mau gosto de trazer para a atualidade o que já é muito atual, mantém o clima dos contos de fada. A curiosidade sobre como vai se mostrar um rei nu no palco infantil é bem resolvida pela direção coletiva, que só tem que tomar mais cuidado com o palco de arena, já que o espetáculo notoriamente foi concebido para o palco italiano. A deficiência se marca pelo excesso de perfis mostrados para a plateia, que não pode se sentar para o cenário. Talvez não contassem com a casa cheia – já que, graças aos deuses, do teatro acontece. É bom rever a marcação.

Mas a grande força do espetáculo é mesmo o elenco. Não por performance isoladas, mas pela qualidade do conjunto e pela vontade de atuar da jovem trupe.

No palco, Érika Ribeiro, Fernando Escrich, Gustavo Wabner e Sergio Módema se revezam em diversos personagens que tocam instrumentos, representam e sobretudo cantam em afinação irrepreensível. Elementos muito raros, no teatro em geral.

Ainda carregando o piano, a Trupe Fabulosa é também responsável pelos figurinos muito criativos em aproveitamento de materiais nada nobres. A tal da chita que vira seda no palco.

A Roupa Nova do Imperador é um espetáculo de simplicidades, que ganha o público pelo aconchego de contar a história certa na hora exata. Sem bandeiras ou panfletos, a mensagem está no palco junto com o conto. De resto tudo é teatro.