Malandros, sambistas e outras figuras que faziam o cotidiano da praça conduzem a trama


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 08.10.1999

 

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Uma parceria afinada 

Para quem apostava que eles iam perder o fôlego, o desmentido está tinindo de bom no palco do Teatro Gonzaguinha. Praça Onze, o Musical, mais um espetáculo da dupla Rogério Blat e Ernesto Piccolo, é o sétimo de uma série de sucessos montados com os atores das Oficinas de Criação do Centro de Artes Calouste Gulbenkian. E o espetáculo tem novidades.

O texto de Rogério, criado nos moldes de um musical (em que as letras das músicas integram a trama), conta à história da Praça Onze através de seus habitantes mais comuns, dispensando os vultos históricos. Sem vultos ou assombrações, estão no palco a ingênua, o cafetão, as mocinhas alegres, as tias do samba, o bloco carnavalesco, o candomblé, o português da padaria, os judeus da prestação, o político do interior e muitos outros tipos que se encaixam na trama, sem tom de documentário. Na história central, Maria de Jesus chega ao Rio e, sem recursos, se torna prostituta. No mesmo enredo, o cafetão assassina o principal sambista da escola, o político do interior se esbalda com as mocinhas da praça, a filha dele se apaixona pelo cafetão e a mulher, para restaurar a moral, usa sua influência política e manda destruir a praça, desativar o candomblé e acabar com o samba. Tudo quase ficção.

Para criar sua história, Rogério Blat mergulhou fundo nas pesquisas e dela só trouxe ao palco resultado que não fosse didático. Marca mais um tento um autor, nessa época em que novos historiadores apostam no cotidiano para resgatar a memória do país. Como que assistindo a uma história dentro da outra, o espectador sofre o impacto de ver a peça no que sobrou da antiga praça, destruída no início dos anos 40, onde fica hoje o Teatro Gonzaguinha (e o musical é apresentado de quinta-feira a domingo).

Na direção, Ernesto Piccolo acerta mais uma vez seu toque de mestre com elencos numerosos. São 63 atores em cena, cantando e dançando em performance irretocável. Em destaque: Elaine Rios, Ana Muniz, Bel Graça, Luciana Fontenelle, Natálio Maria, Heldi Lopes, Edinardo Araújo, João Júnior e Joana Serrão. Desde DNA Brasil, também de Blat, Piccolo vem se arriscando no gênero musical e desta vez apostou todos os seus trunfos em parcerias. A melhor de todas, com certeza, foi com a coreógrafa Sueli Guerra. O que se vê no palco é um espetáculo afinado nos mínimos detalhes, em cenas delineadas com a simplicidade da sofisticação.

Os figurinos de Kalma Murtinho, ampliando as parcerias nova, são todos inspirados no traço de J. Carlos para a revista Fon-fon. Os cenários de Analu Prestes são telões que retratam a Praça Onze e tomam todo o teatro. Para melhor movimentação, o palco foi ampliado em mais 5 metros. Um exagero bem interessante. A iluminação de Djalma Amaral cria os devidos climas e todos se divertem

Ainda como grande recurso dramático, as músicas de Fernando Moura par as letras de Rogério Blat fecham com chave de ouro esse espetáculo em que tudo deu certíssimo.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)