Maciel Tavares (E), Ary Freitas e Josie Antello: teatro-escola. Foto Mariza Lima

 

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 30.10.1999

 

Barra

Cada vez que se acha que o teatro esgotou suas possibilidades, catárticas ou de entretenimento, alguém lança numa nova aventura. Nesse final de milênio, o teatro educativo, principalmente na área da saúde, tem feito muito sucesso. O mais estranho de tudo isso é a escolha de um veículo tão artesanal. Ao que tudo indica, a velocidade da informação encontrou no palco o lugar ideal para um corpo a corpo mais do que direto. Tem dado certíssimo.

O Menino e as Bactérias, em cartaz no Teatro Leblon, é um bom exemplo desse teatro educativo, sem tom professoral ou excessivo apelo didático. Produzido pela Companhia de Humor, com apoio da Glaxo Welcome, o espetáculo não é nenhuma superprodução cheia de efeitos especiais, como geralmente acontece quando entra em cena uma grande empresa. A parceria econômica, no caso, se reverteu para o bem do espetáculo, que, sem muita pirotecnia, teve que usar o que de melhor tinha: o talento de seus atores.

O texto da dupla Maciel Tavares, também diretor do espetáculo, e de Ary Freitas, aposta na curiosidade infantil sobre laboratórios e experimentos de cientistas nada convencionais. Em cena, três doutores palhaços, como os Doutores da Alegria, investigam a plateia para ver se tem alguém descumprindo a ordem da boa higiene. Checado o público, toca o alerta vermelho no laboratório e a peça se divide entre a casa de Júnior- um menino que, como qualquer criança da plateia, não acha que seja o melhor dos programas tomar banho, lavar as mãos, antes das refeições e comer comidas saudáveis- e a ação dos cientistas palhaços tentando reverter o estrago. O texto, quase um roteiro de imagens, é o que se costumou chamar de “teatro espelho”. A plateia que se vê em cena com certeza se diverte mais.

Com inspiração no trash, o espetáculo traz ainda ao palco a invasão das bactérias e de um super herói, o Super Zeloso, muito parecido com o Sonic dos videogames. As luzes piscam, o Super ataca os monstrengos e as crianças adoram.

Correndo por fora do visual Ed Wood, o elenco é de primeira. Adriana Zanyelo, num papel masculino sem caricaturas, interpreta Júnior, o vilão/mocinho da história. Ary Freitas, como Doutor Software, dá um ar romântico ao papel. Maciel Tavares, já mais circunspecto, envelhece bem o personagem como o Doutor Hardware, e Josie Antello tem impagável humor, como a Doutora Mouse. As meninas do elenco de apoio enfeitam as cenas nos números musicais e depois atacam de bactérias. Tudo muito correto.

O Menino e as Bactérias é um espetáculo que certamente não vai mudar os rumos do teatro infantil, nem pela plasticidade nem pela pesquisa de linguagem. É teatro para público e esse sai de lá com ideias na cabeça. O teatro-escola que deu certo.

Cotação: 2 estrelas (Bom)