Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 28.02.1999  

         

Os Parlapatões: peça vira cult já na estréia da Casa de Cultura Laura Alvim. Foto Luiz Doro

 

 

 

 

 

 

Barra

Equilíbrio com humor lota teatro

Numa época em que a maioria da população já se acostumou a nadar na corda bamba, equilibrando a crise, muito oportunamente os atores circenses Parlapatões, Patifes e Paspalhões – Alexandre Roit, Hugo Possolo e Raul Barreto – chegam ao palco do Teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema, fazendo malabarismos no espetáculo De Cá pra Lá, De Lá pra Cá. Na vida e na arte, salvam-se os equilibristas pelo humor.

O roteiro de Alexandre Roit amplia o picadeiro dos novos palhaços para acena urbana em perfeita sincronia com a realidade. Os três parlapatões são agora coladores de cartazes de um estranho out door: o Loteamento Guernica. Na tarefa mais simples de colar seus papéis vão surgindo os divertidos números de malabares com baldes, pincéis e outros elementos do cotidiano desses trabalhadores.

Tudo começa com os três coladores chegando ao trabalho. A cena é feita com um carrinho de controle remoto que passeia no palco, enquanto a voz off dos atores descreve o trajeto. Já em cena, como se fosse muito natural, os instrumentos de trabalho fazem parte da brincadeira em técnica apurada. Seguindo um roteiro bem traçado, os colaboradores fazem voar seus baldes e pincéis até a hora do almoço, onde a comida também é manipulada num alegre jogo com a plateia.

Na hora do descanso desses brasileiros, um futebol improvisado preenche a pausa para a digestão. São bolas de meia que se colam nos malabaristas, dando movimento a essa inusitada partida. A jornada continua, até o grand finale aquático com fontes de esguichos no palco e na plateia. Tudo isso acontece no teatro. E que lugar melhor para se mostrar à arte espetacular do impossível?

Dirigidos por Carla Candiotto, Os Parlapatões, há dez anos envolvidos com a arte circense, fazem um espetáculo de extremo equilíbrio entre o circo e o teatro, sem desprezar nenhuma técnica das duas linguagens. Algum embaraço na função dos malabares é absorvida pelo jogo do ator e todos se entendem.

Mostrar o circo no palco sem o rufor de tambores ou em números estanques de performances virtuosas está fora de questão.. É o palhaço equilibrista e malabarista que está em cena como qualquer mortal. A identificação da plateia é instantânea com esses erradinhos trapalhões que acertam em cheio no gosto popular.

Com um cenário simples e funcional – um telão onde papéis coloridos deixam aparecer aos poucos o painel de Picasso Guernica que dá nome ao loteamento -, de Luis Frugoli, e figurinos, na mesma linha, de Hugo Possolo, a peça tem ainda trilha musical de importante interferência assinada por Théo e Márcio Werneck.

De Cá pra Lá, De Lá pra Cá é um espetáculo que já estreou cult. Está lotando como há muito não se via o teatro Laura Alvim. Neste verão em que falta tudo, está sobrando alegria no teatro. E isso é ótimo.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)