Como a Lua… em duas sessões… no Studio São Pedro

Crítica publicada pelo jornal Folha de São Paulo
Por Tatiana Belinky – São Paulo – 1981

Barra

Um belo musical brasileiro

Muita coisa boa para crianças neste fim de temporada. E Como a Lua… se coloca direto entre as melhores de todo o ano. As produções de teatro infanto-juvenil da Marti e Acaiabe sempre se destacaram pela qualidade. E Vladimir Capella, esbanjando talento, faz honra aos prêmios, que já mereceu (entre eles o Molière), assinando texto, música e direção deste novo espetáculo.

O enredo é uma história folclórico-lúdica, filosófico-poética, às vezes dramática, sempre lírica. E se os adjetivos parecem fortes, é só ir lá verificar por si mesmo.

Há o caso de amor não correspondido do índio Paiá (Marcos Frota ótimo no papel) pela formosa índia Colom (Ana Maria de Souza, ótima também). E há os temas da vida e da morte, do destino (o deus Rudá, engenhosamente representado). E há brincadeiras de crianças do aqui e do agora, e há bichos que falam. E o tempo que não é linear nem cronológico. E tristezas e alegrias que se entrelaçam junto com o real e o fantástico. E há a música inspirada do autor, tanto nos arranjos em trilha como ao vivo e à vista do público, com (bom) canto e sons “indígenas”, “de floresta”, e outros durante a ação e mantendo o clima nos momentos de black-out dos breves intervalos entre cenas. E a iluminação competente. E as integração perfeita do fundo musical em trilha com a música ao vivo. E o ritmo perfeito de toda a ação – não fosse músico e compositor o próprio diretor e autor. E a beleza e a fluidez da história, muito compreensível, apesar da temática sofisticada (com leitura em vários níveis), reforçada pela narração na voz de Carlos Meceni.

E o sentido da mensagem, implícito na ação e explícito na frase que encerra a peça: “Tudo que nasce morre, tudo o que morre nasce outra vez… como a lua”, resumindo a ideia que o autor colocou no release: “Tudo o que termina um dia se transforma e volta noutro dia. Como a Lua, que numa noite morre crescente e na outra nasce cheia.

Vladimir Capella conseguiu dar o seu recado com este espetáculo lindo, esse belo musical, tão brasileiro na sua forma e tão universal no seu conteúdo, bom para todas as idades, programa obrigatório para o nosso público infanto-juvenil – ou qualquer outro.

Serviço

Como a Lua

Texto, música e direção: Vladimir Capella, cenografia e figurinos de Bré Gilberto, iluminação de Abel Kopanski, arranjos play-back de Dionísio Moreno. Com Ana Maria de Souza, Bré Gilbert, Cleide Eunice, Marco Favaretto, Marcos Frota. Produção Marti e Acaiabe, Studio São Pedro (rua Albuquerque Lins, 171), Sábados 15h30 e domingos 10h30 e 15h30)