Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 24.04.1999
Raridade na temporada
O título muito bem sacado sugere aventuras na terra dos monstrengos, onde o pé pesado do gigante está sempre a esmagar algum mortal bonzinho. Essa horrorosa figura que tanto fascina a imaginação infantil vem ainda com instruções na bula que permitem ao herói mais esperto vencer a força bruta com a inteligência. Mas, à primeira vista, os monstrengos de Brincando na Terra dos Gigantes, peça em cartaz no Teatro Gláucio Gill, em nada se parecem com os outros vilões. Eles são apenas os adultos em suas funções rotineiras de determinar a hora de acabar a brincadeira, de não deixar as crianças acordadas até tarde da noite e de cortar o melhor da história. Enfim: gigantinhos em suas funções de gigantões. Tudo monstrinho controlável.
O texto do mineiro Ricardo Nortier é, na verdade, muito mais saboroso pela história contada do que pelo efeito visual que propõe: cenários superdimensionados para mostrar a visão que a criança tem do adulto. São causos para serem ouvidos em conversas á beira do fogão de lenha das Minas Gerais.
Assim, os primos Carlota (Mona Magalhães), Lurdinha, (Tetê Dias), Tatá (Vinícius Salles) e Caveira (Gustavo Risotti) estão de férias na casa da avó. Com as disputas naturais, alguém está sempre inventando uma brincadeira onde um ou outro não vai ter o melhor personagem. Fazendo um contraponto às brincadeiras e brigas, os adultos da casa chegam para cortar o melhor da festa. Entre eles, tem a mãe que não deixa o primo dormir na casa da avó, a terrível tia doida (toda família tem uma) e a vovó já muito velhinha que chega para botar ordem na família.
A direção de Nortier para o seu próprio texto adereça demais o espetáculo e acaba prejudicando o ritmo da história, com a inserção da técnica de perna de paus para alguns personagens. O bom do efeito acaba ralentando as cenas em que esses personagens. O melhor fica mesmo com o desenho dos personagens dentro da trama. A tia doida (Jaqueline Melo) é só uma solteirona fazendo mandinga para trazer o namorado de volta. O autoritarismo da mãe traz a antipatia pelo filho que não reage e a avó (Marcela Moura) é o único adulto que perdeu as pernas de pau e está na mesma estatura das crianças. Conclui-se que a trama correria melhor, e sem perder esse efeito diferencial, se as pernas de apus não fossem literais e sim uma característica a mais dos personagens. As crianças da casa se divertem mais: a prima bonitinha e chata, a cientista e o que quer sempre o papel do cachorro. Crianças em seus jogos diários que têm identificação imediata com a plateia.
Para ambientar essa trama os cenários de Orlando Arocha retratam com impacto uma cozinha na roça, com seu fogão de lenha e suas prateleiras de mantimentos. Tudo em proporções gigantescas. Os atores se movimentam bem por lá. A iluminação, no entanto, não está bem afinada e alguns efeitos de cena são perdidos.
Brincando na Terra dos Gigantes é um espetáculo de histórias, de causos bem contados que, mesmo com esses acidentes de percurso, está agradando à plateia lotada do Gláucio Gill. Uma raridade na atual temporada.
Cotação: 2 estrelas (Bom)