Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 11.04.1999

 

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Um clássico para ampla faixa etária

Mais um clássico de Maria Clara Machado está nos palcos. O texto da vez é Aprendiz de Feiticeiro, Prêmio Molière em 1968, que volta e meia ganha nova versão. A nova montagem está no Teatro da Lagoa, com direção do paulista Júnior Mosko.

Maria Clara Machado, que no final dos anos 60 foi convocada a “virar a mesa” do seu teatro convencional, fecha a década com esse texto de personagens nada comportados. Entre as estripulias de Aprendiz de Feiticeiro, está o Tenente Perseguição, um militar que, querendo galgar mais um posto na carreira, toma a poção mágica e se sente como um general. Na linha evolutiva do poder, o topo da categoria é o burro. E para esse caso não há antídoto. Essa é a Clara “alienada”, como falava a vanguarda da época.

O tempo passou, a vanguarda também, e Aprendiz de Feiticeiro está aí no palco como um belo exercício para atores. O texto bem estruturado brinca com a fantasia de adultos e crianças na figura do cientista maluco e seu laboratório cheio de tubos de ensaios e fórmulas mágicas. No contraponto a toda essa ciência, um pouco de romance e aventura. Uma peça-gabinete para a plateia infantil, onde a ação em ambiente fechado, ao contrário de entediar os mais jovens, aguça sua imaginação.

Na trama, o professor Uranus inventa uma fórmula que fará crescer frutas, coisas e pessoas. Mas o professor é cauteloso e vai dosando a fórmula pacientemente. Cansada da vida no laboratório, Anabela, sua neta, aproveita uma viagem do avô e espalha a poção em dose dupla para todos os experimentos e para quem mais quiser. Os efeitos são logo sentidos e tudo só volta ao normal quando o avô retorna da viagem. Menos no caso do tenente já citado.

Júnior Mosko conduz o espetáculo de forma linear, com a preocupação de contar a história sem muitas invenções. O caminho é bom, mas a performance de alguns atores acaba ralentando as cenas finais, no desfecho da trama. Mosko, que também está em cena como o personagem Juventus, perde um pouco o controle da direção de ator. Nesse caso sai-se melhor quem provavelmente já é bom mesmo. Como Cláudio Paiva, muito interessante na composição da personagem Anabela e o próprio Mosko como seu par românico.

O espetáculo tem produção bem cuidada, com cenário de marcos Antunes Neto que mostra um laboratório bem teatral e figurinos do mesmo autor que funcionam muito bem, principalmente nos adereços superdimensionados para mostrar os efeitos da fórmula mágica. A luz de Antônio Antunes carrega um pouco no efeito do show, mas acaba resolvendo bem a ambientação do palco.

Aprendiz de Feiticeiro é um espetáculo de boa história para crianças de uma ampla faixa etária. E uma história bem contada é sempre bem-vinda.