Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 05.09.1998

 

Barra

Com um final feliz garantido

Os Privilegiados, grupo criado pelo diretor Antônio Abujamra em 1991, chega ao palco da Casa de Cultura Laura Alvim com seu primeiro espetáculo dedicado ao público infantil: O Príncipe Que Tudo Aprendeu Nos Livros. Repetindo a dose de seus espetáculos anteriores, está em cena a arte de contracenar. E nesse tipo de encenação sem estrelas da companhia, o grupo é imbatível. Mas o texto escolhido tem protagonista e trama central bem delineada. No caso, as coisas se complicam, e entre erros e acertos, salva-se o coro.

A peça escolhida é do autor Jacinto Benavente Y Martinez, Prêmio Nobel de Literatura de 1922, Martinez, que escreveu mais de 130 peças, entre elas algumas de muito sucesso no estilo de teatro romântico e de boulevard, centra seu tema numa trama de enganos. O príncipe Azul, o que tudo aprendeu nos livros, é um aficionado dos contos de fadas. Seu pai, vendo que o moço tem que aprender a vida prática, lança o filho ao mundo, junto com seu mestre e seu bufão. Tendo que escolher um caminho a seguir, o príncipe, como leu nos livros, escolhe o mais tortuoso, já que esse é o caminho da felicidade. O mestre fica em dúvida e o bobo vai pelo caminho mais fácil. No reverso do estereótipo, o autor brinca com os signos dos contos de fadas de maneira inovadora. O caminho mais difícil e o mais fácil estão, igualmente, cheios de boas e más surpresas. A boa velhinha nem sempre é uma fada e o terrível gigante também pode não ser tão mau assim. No jogo do contrário, do “assim é se lhe parece”, o final feliz é garantido.

Mauro Marques na direção investe tudo nas cenas de conjunto, onde o elenco canta em belíssimo movimento de palco. Já a trama mais central fica prejudicada pela frágil interpretação de seu protagonista. Wanderson Magalhães, muito tímido em seu papel, e com tom de voz sussurrante, tira qualquer brilho que o personagem possa ter. Compensando a falha, seu bufão, Danielle Barros, ganha a simpatia do público instantaneamente. A jovem atriz, muito segura em cena, é sem dúvida nenhuma a grande surpresa do espetáculo. Também de grande efeito é a participação de Cristina Flores, Daniela Azevedo e Isley Claire as três Princesas da trama.

O espetáculo cheio de aparato técnico tem cenários cheios de planos e de rápida mudança de ambiente assinados por José Dias. Também de muito bom gosto , os figurinos de Filomena Mancuzo se destacam nas cenas de conjunto, ficando apenas para ser revisto o do Príncipe Azul, um tanto brilhoso demais. A direção musical de Marco Abujamra traz a música para a cena no belo canto dos atores.

O Príncipe Que Tudo Aprendeu nos Livros, com assinatura de Os Privilegiados, é um espetáculo ainda em movimento de acertos. Cabe ao diretor, que sem dúvida tem o apoio do elenco, rever as pequenas falhas e fazer o espetáculo decolar como merece.

Cotação: 2 estrelas (Bom)