Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 19.04.1998

 

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Seis contos enxutos, com muito humor

Tudo começou nos corredores da Uni-Rio, quando as alunas do último semestre do curso de teatro não conseguiam resolver a sua prática de montagem. Pediam reunião, se descabelavam e nada era resolvido. Elas já estavam ficando loucas, o mês era o de maio e a história se completou. Assim nasceram as Loucas de Maia, grupo de atrizes e agora contadoras de história que apresentam nos Jardins do Museu da República o espetáculo Fábulas à Meia Luz. Para não fechar um círcuito apenas feminino, as Loucas agregaram a performance dois atores – Charles Azevedo e Cristiano Queiróz -, um conjunto de música ao vivo, de violino e flauta, e o diretor André Paes Leme. A feliz união acabou resultando uma das mais interessantes da temporada.

O diretor André Paes Leme, cercando o espetáculo de cuidados especiais, começou por apresentar às atrizes a técnica dos contadores, sem que isso atrapalhasse a performance do ator. As histórias contadas e encenadas foram recolhidas na tradição oral e mantêm na narrativa todos os absurdos acumulados e suprimidos no recontar ao longo dos anos. A grande atração fica na crítica suave ao enredo e no toque de modernidade que o diretor acrescentou à encenação sem apelar para o mau gosto. O resultado é surpreendente.

Usando o ambiente natural dos jardins do Museu – uma árvore com alguns pontos de luz e poucos adereços -, a festa começa com a chegada do público, ao qual são oferecidos vinhos e frutas. Todos acomodados, têm início o sarau. São seis contos enxutíssimos e cheios de humor. A Hospitalidade conta o passeio de Jesus e São Pedro pela Terra, quando lançam sobre duas tecelãs a mesma sorte, com resultados diferentes. Chico Pedroso é a saga de uma família de tolos. Nariz de Prata, a história de três irmãs que confirma velha máxima: com mulher nem o diabo pode.

As Loucas de Maio – Isabel Ugart, Antônia Watts, Ana Ramalho, Isabela Siqueira, Adriane Bosco, Ana Dias, Ana Paula Rodrigues, Denise Munhoz, Erika Venturine, Mayra Capovilla e Patrícia Figueredo-, muito a vontade no palco dos contadores, encarnam personagens no auge de sua teatralidade. As mulheres tolas da famólia de Chico Pedroso marcam seus diálogos com o virar de cabelo dos modelos e manequins. As três irmãs de Nariz de Prata dominam o diabo por pura solicitação. Ele não se enfurece e sim morre de cansaço.

Outras boas estratégias de cena ficam na multiplicidade de atores para um mesmo papel, sendo a troca perfeitamente entendida. Também de grande efeito é a formação do coro, com atrizes que, quando não estão em cena, fazem pequenas interferências, obedecendo rigidamente à linha de ação, sem jamais chegar ao proscênio. Uma disciplina rígida para quem tem fome de palco.

Fábulas à Meia Luz é um desses espetáculos que pegam a platéia de surpresa e a fazem voltar ao teatro (ou ao jardim) para ver e rever a performance.