O encanto dos personagens de Disney sobre o gelo: até amanhã no Maracanãzinho


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 10.10.1998

 

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Cenas grandiosas e derrapagens 

Branca de Neve e os Sete Anões, filme de animação de 1937, foi o primeiro longa-metragem produzido pelos Estúdios Disney, ganhou o prêmio conta dele, seu criador, Walt Disney , ganhou o prêmio especial da Academia de Hollywood – um Oscar do tamanho original e sete Oscarzinhos “pela inovação cinematográfica”. Disney, que quase levou o estúdio à falência nos três anos de produção do filme, conseguiu firmar-se de vez na realização de obras de grande porte, filmando em seguida Pinóquio e Bambi.

A História dos irmãos Grimm, um conto do século 19, saltou da tela – assim como outros “contos de fadas” reinventados pelos estúdios – e ganhou inúmeros imitações no palco. E, por mais estranho que pareça cada vez que se divulga que a peça reproduz a estética Disney ( o que certamente não é um elogio, em que se tratando de teatro), a plateia se enche. Assim, estão por aí Hércules (em profusão), Aladdin (na mesma quantidade), MulanCinderela, Pocachontas e outros compadres.

Para quem não resiste à griffe, Disney no Gelo este ano brinda a plateia com Branca de Neve e os Sete Anões, numa produção supercaprichada de patinadores, cenários, figurinos e feitos especiais. E como Disney é Disney, abrindo a parada estão por lá sem uma ruga a mais Mickey, Minnie, Pateta e Donald. Uma boa introduction do que está por vir.

Na pista de gelo medindo 52m por 21m, uma produção de US$ 8 milhões (valor divulgado pelos responsáveis pelo evento) derrete o coração da garotada, que sem dúvida se entrega ao espetáculo sem restrições. Assim, não se importam muito com os diálogos que chegam truncados à plateia, nem com as cenas de teatro minimalistas feitas no fundo do palco, muito menos com as versões dubladas de Whistle while you work e Someday my prince Will Come. Afinal, esse é um espetáculo apresentado por Mickey Mouse e, como já está provado, o camundongo entende de show business.

Para compensar as ligeiras derrapadas, o espetáculo é intermediado por cenas grandiosas, como a do piano de madeira de onde salta para o palco quase todo o elenco, cantando e dançando ao som de algum hit do tirol. O efeito é bárbaro. Com uma coreografia muito bem marcada, a cena enche toda a pista da mais pura fantasia. Outra cena de bastante efeito é a da transformação da madrasta e, bruxa, feita na frente do público num truque de efeito espetacular. No anticlímax, desfilam no palco os príncipes e princesas da vida inteira. Entre eles e elas a Princesa Aurora, Alladin, Cinderela, a Sereiazinha, Pocachontas e seus respectivos. Esse momento Disney que sempre funciona tão bem na tela e no palco só reverencia o toque de mestre.

Disney no Gelo, porém, ultrapassa os limites do palco e, entre uma pipoca com a marca do evento e um sorvete raspadinho na caneca do personagem, uma profusão de lembrancinhas é oferecida à plateia consumista que se rende sem restrições ao apelo. Como já se dizia na terra do cinema: There’s no business like show business.

Desse modo vale a extravagância. Afinal, isso só acontece uma vez por ano. E por falar nisso, a próxima turnê já está programada. Ano que vem tem Hércules. Vamos ao show.

Cotação: 2 estrelas (Bom)