Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 22.03.1998
Um show que encanta a plateia
Não é pássaro, avião, super-herói ou príncipe encantado. Muito pelo contrário, os mocinhos da vez são uns bananas, é claro que de pijamas, é claro, também, que vêm da televisão. No caso, o sucesso é garantido, Bananas de Pijamas Vão ao Teatro, peça em cartaz no Teatro Clara Nunes, é um desses fenômenos de público que nem é bom especular o porquê de sua empatia com o imaginário infantil. Qualquer referência mais cabeça pode ser encarada literalmente, pois cabeça é o que mais sobra nos bonecões.
Vindo para os EUA numa fase de cooperação com a Austrália, no mesmo pacote em que foram embarcados Crocodile Dundee e a completamente submergida rede de fast food Subway, Bananas de Pijamas – personagens inspirados numa canção australiana de Carey Blynton composta em 1967 – tem a cor da época. No fim do desbunde, o auge do lisérgico, duas bananas caem de um mesmo cacho já vestidas de pijamas. Em que outra época o absurdo faria mais sentido? Tudo especulação, a canção já conhecida do público – Bananas de Pijamas descendo as escadas… Bananas de Pijamas uma dupla bem levada – é das mais comportadas, e os personagens – tema seguem a mesma linha.
Procurando exaltar qualidades como a amizade e o companheirismo, B1 e B2 chegam ao teatro como se estivessem na TV. A vantagem é que o público pode ver o seriado ao vivo. São cinco histórias de enredo ingênuo, nas quais os protagonistas contracenam com seus companheiros de tela, os Teddies, Amy, Lulu e Morgan, e mais o Rato de Boné, que, se for contar mesmo tem a maior participação do espetáculo, já que todo conflito parte desse personagem.
Com muito canto e dança – a música tema da TV toca duas vezes e, para maior identificação, não importa o que os Bananas estejam fazendo , param tudo e descem a tal escada para ilustrar a canção – Bananas de Pijamas vivem suas historinhas do dia-a-dia. Na ida à praia, o rato de Boné rouba o lanche. No aniversário ele rouba o bolo e por aí vai. A peça conta ainda com um “momento cidadania” na qual a plateia aprende que “lugar de lixo é no lixo”. Nesse momento para tudo, a luz da plateia se acende e gasta-se bem uns dez minutos colocando a trilha gastronômica teatral numas cestinhas.
Para embalar a trama dos bonecões, estão em cena como mediadores da história as crianças Caroline Figueiredo e Bruno Ferrante, acompanhadas do excelente ator Raphael Molina, no papel de Tio Pepe. E é este animado trio que consegue, apesar de tudo, dar algum movimento às cenas.
Com lotação esgotada e já fazendo sessão extra Bananas de Pijamas não é teatro, mas show. E, como tal, encanta a sua plateia. O Holiday on Ice não faria melhor. Nem pior.