Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 26.04.1998
Uma sucessão de imagens bonitas
A Cia. De Teatro Artesanal, desde 1995, apresenta seu espetáculo anual no teatro do Museu da República. O da estreia foi Romão e Julinha, uma versão de Romeu e Julieta ambientada numa cidade só de gatos. No minúsculo palco do museu eles montaram uma peça de cenário realista, onde não faltava nem o carrinho de chá par as cenas do interior. O segundo foi O Circo Mágico de Provolone, Goiabada e Guaraná. Um espetáculo tão animado que começava nos jardins do museu com um prólogo de histórias de circo, onde não faltava nem a mulher barbada. A peça fez tanto sucesso que eles acabaram ficando conhecidos como O Pessoal do Provolone. Este ano, a Cia., já com mais cancha de palco, arrisca o seu primeiro texto.
Amaralinda, escrito e dirigido por Gustavo Bicalho, é uma trama ingênua, cheia de bonitas imagens que contam a história de uma bonita mocinha apaixonada por um pescador, mas que vê seus planos de casamento ameaçados, quando um rico pretendente chega a aldeia para também se casar com ela. Nada na linha de luta de classes. Apenas uma história de amor.
Melhor que o enredo são as imagens criadas em cena. Na tela de fundo, uma, um mar nada realista, criado por Hélcio Pugliese, se abre em recortes para os bonecos manipulados interferirem na trama. O sobe e desce das tapadeiras não obedece a nenhum truque teatral e tem a intenção de mostrar a técnica em operação. Uma estratégia proposital que permite ao público conhecer um pouco mais dos bastidores e da máquina usada nos teatros.
Mas se Bicalho brinca tão bem em cena com os elementos do teatro, o mesmo não faz com a sua direção de atores. Numa encenação bastante realista, a rama, por vezes, quase envereda para o dramalhão nos momentos ditos mais sérios e para a caricatura, nas cenas de comédia. Um recuo nos dois estilos seria bem-vindo. Ainda a se pensar, a presença constante do casal de narradores em cena atrapalhando a ação do espetáculo.
Se a trama dos atores corre com alguns obstáculos pelo caminho, o palco dos bonecos é uma revelação. Manipulados pelos próprios atores – Dílson de Souza, Daniela Canavellas, Henrique Gonçalves, Ronaldo Reis, Sérgio Menezes e Regilan Deusemar – estão em cena, além dos engraçadíssimos peixes, a sereia Raimunda, que carrega seus atributos no nome, e o índio Teró, um boneco de proporções gigantesca. Todos criados por Marcelo Abreu.
Ainda de grande efeito, a iluminação de Djalma Amaral, feita com projeção de sombras, enche o palco de peixes em movimento. Usando os seus famosos “objetos de luz”, Djalma recria em cena uma versão de muito bom gosto – golfinhos coloridos que brincam no mar – das antigas e tenebrosas luminárias que, por algum truque, faziam rolar na sala de visitas lá pelos anos 60 Niagara Falls inteirinha. Um clássico revisitado.
Amaralinda é uma peça, com ares de novela de época, que por todas essas interferências teatrais de vários estilos se transforma num agradável entretenimento.
Cotação: 2 estrelas (Bom)