Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 31.01.1998

 

Barra

O teatrão revisitado para jovens

Escrito em 1973, o livro As Meninas, de Lygia Fagundes Telles, é um interessante painel de sua época. Ambientado em um pensionato religioso, onde possivelmente estas diferentes Meninas estariam protegidas de toda e qualquer influência do conturbado mundo que as cerca, a autora cria personagens bem delineados que, mesmo em um ambiente repressivo, vivem suas vidas de acordo com suas convicções. Um bonito retrato da geração 70.

Na adaptação do texto para o palco, feita por Isabel Scisci, a trama acaba perdendo algumas delicadezas. O que não deixa de ser compreensível, já que se tem que pôr em cena, num espetáculo de pouco mais de uma hora, toda a história dessas corajosas moças, narrada em flashback. O recurso mal solucionado no palco acaba gerando uma sucessão de blackouts e troca de roupas, que quase chegam a atrapalhar o envolvimento do espectador com a trama. Apesar do entrave, a emoção é mantida.

No palco do teatro Cândido Mendes, Juliana Martins, Bianca Rinaldi e Daniela Faria vivem as três moças do texto em interpretações convincentes, na maioria das vezes. Na trama, a história de Lia, uma ativista política e Lorena, uma moça romântica vinda de família tradicional. Elas se deparam com seus conflitos no dia em que Ana Clara, a mais despreparada das três, morre de overdose no quarto que dividem no pensionato. A morte de Ana é a base do conflito que irá expor a trajetória de cada uma dessas moças, partindo da situação limite em que se encontram.

Franncis Mayer, mais uma vez dirigindo seu teatro para a jovem plateia, investe na linha direta de comunicação. Seus personagens vivem a ação em tempo linear com recursos pouco sofisticados. A estratégia de escurecer a cena para mudanças de figurino no tempo que atrasa a adianta poderia ser feita a partir da performance das atrizes. O recurso externo, se não chega a banalizar a história, faz com que esta perca muito de seu ritmo. Mas Franncis Mayer, um diretor que conhece bem seu público, tem na plateia cativa que lota o Cândido Mendes a maior avalista da sua direção griffe.

Assim foi em Namoro, Se Você Me Ama, Nó de Gravata, Teen-Lover e outros sucessos feitos sob medida para a novíssima geração.

As Meninas tem cenários realistas de Doris Rollemberg, que retrata em madeira crua o que seria uma pequena sala do pensionato carioca nos anos 70. Na mesma linha de época, os figurinos de Rosa Magalhães recuperam a moda hippie de butique, com as temíveis pantalonas boca-de-sino e minivestidos inspirados no uniforme do Sergeant Peppers. A iluminação e trilha sonora ficam a cargo de Franncis Mayer.

Na vitrola toca Beatles e, nestas horas, até os menos jovens se emocionam. É o teatrão revisitado, repaginado, maquiado, cheio de cortes na edição, mas sempre teatrão. E por mais que se invente, esse teatro ainda em seu público.

Cotação: 2 estrelas (Bom)