Crítica publicada no Jornal do Brasil
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 07.08.1999

 

Uma História de Morcegos

Plateia traída por intenso palavrório

Morcegos, dráculas e vampiros sempre caíram bem no gosto do público. Principalmente quando usados para criticar simples mortais. Seja num Rock Horror Show, para referendar a swing London, ou no brasileiríssimo Draculinha, texto para o público infantil de Carlos Queiróz Telles, que usa o suga-suga dos vampiros para denunciar as presas afiadas da nova família. Mordida por mordida, sem maiores pretensões, acaba assustando a plateia. Pior ainda, perde a graça antes de contar uma história. Esse é o caso de Uma História de Morcegos, em cena no Teatro Rubens Corrêa.

Desmentindo a tese dos teóricos do teatro infantil, de que um bom espetáculo pega o público nos primeiros 10 minutos, essa peça começa na medida. Num cenário vampiresco, com paredes de pedra e iluminação afinada, o velho vampiro relembra os áureos tempos. Na suntuosidade do castelo, tudo pode acontecer. A proposta aguça a curiosidade da plateia, para imediatamente traí-la. Nada, a não ser um imenso palavrório, se desenrola em cena. Nem o entra e sai de personagens anima a trama. Nos primeiros minutos o enredo se desgasta e o que se vê depois é uma imensa variação sobre o mesmo tema.

O texto de Beth Araújo, a mesma autora de Balbino e Bento, um dos espetáculos infantis do ano de 95, certamente é muito interessante para ser lido, mas não para ser encenado literalmente, sem cortes na edição e jamais sem um diretor criativo que de ação a palavra. A história, se compactada, conta a saga de um vampiro que se apaixona por uma borboleta, até finalmente descobrir um par mais eterno, mais de acordo com sua existência. Mas o que está palco, mais do que a história do vampiro, é a presença de suas três irmãs: a primeira só pensa em organizar festas, a segunda é uma fã dos anos 50 e a terceira é uma caricatura da geração shopping. Não é muito, mas sobra.

Com tudo isso, o espetáculo tem certo apelo. A produção é bem cuidada e leva ao teatro, a cada final de semana, um convidado especial. No último estava por lá a engraçadíssima atriz Claudia Rodrigues, a “Ofélia do Fernandinho” da TV.

A comediante com seu tom chique de chique de escracho, roubou a cena e divertiu a plateia, sua participação episódica deixa um gostinho de quero mais, que infelizmente não acontece. Também ainda, por conta da produção, está em cena o Coro Infantil da Escola de Música da Rocinha. Pena que as afinadíssimas vozes das crianças só possam ser ouvidas em pequenas vinhetas, ficando o restante dos números musicais por conta do elenco, que mais uma vez exagera, como acontece no Love me Tender, de Elvis.

Uma História de Morcegos poderia se valer de seu ótimo aparato técnico e rever o produto final, que está chegando para o público. Sempre é tempo de acertar.

Cotação: uma estrela