Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 10.02.1996
Com o irresistível tom ‘trash’
A companhia A Culpa é da Mãe, superatuante no teatro de Brasília, inicia sua bem humorada carreira em 1993, com o espetáculo Nada. Dois anos depois, monta Tudo, uma resposta ao primeiro espetáculo. Perseguindo a linha nonsense, estão ainda no repertório da companhia: A Escrava Isaura, Contando Ninguém Acredita e Rumo ao Planeta Boing. Este ultimo, uma aventura intergaláctica interativa, que pode ser considerado um star trash. Tira, Adrenalina em Combustão, em cartaz no Teatro Ipanema, é de 1994. O texto assinado por Vitor Leal, Welder Rodrigues e Jovane Nunes reúne a nata dos clichês das séries policiais da TV, como São Francisco Urgente e Columbus, somada a outras gags de filmes de ação mais atuais.
A brincadeira começa no titulo. O original McCoys’s Day, como todo filme estrangeiro, ganha tradução mais explícita no país e se transforma em Tira, Adrenalina em Combustão. O enredo não perde nenhum detalhe para ressaltar o ridículo das situações e a cochilada dos tradutores.
Com trama ambientada em Chicago, numa época próxima a atual, McCoy e Valdez são policiais do departamento de narcóticos que, sentados em seu carro vigiando alguma atividade ilegal, não deixam de lembrar os melhores lances do seu time de baseball, o Chicago’s Butterflies, onde algum jogador tipo babe Ruth marcou 3.000 jumps no último campeonato. Coisa que só americano e usuário fanático de locadora de vídeo entende. Mas a história é mais complexa. Valdez está a dois dias de sua aposentadoria e, como comenta com o comissário em péssima tradução, “estou mais perto das minhas férias do que de um cão perdigueiro do Dia de Ação de Graças”. Na cidade Ice Cream, Killer comanda o tráfico delittle strawberries ice cream, um sorvetão que aplicado na testa pode até matar. A morte do filho de um senador põe a polícia em ação. MCCoy porém, é retirado da missão pelo chefe O’Brien, que recebe um relatório do departamento psiquiátrico dizendo que o tira é adrenalina em combustão. Numa cilada, Valdez é morto e McCoy ganha um novo parceiro mais sorvetão do que a própria droga e que, além de todos os defeitos, torce pelo Alabama’s Frogs.
Além da trama propositalmente previsível, o espetáculo ganha a simpatia da plateia pelas inserções inesperadas de vinhetas da TV, como Gente que Faz, ou por ressaltar atividades como a dos profissionais do Amway (uma espécie de pirâmide de produtos indispensáveis, que promete aos participantes a fortuna instantânea) e outros absurdos da vida diária.
A direção de Adriana Nunes tenta usar a linguagem das histórias em quadrinhos mas não consegue. Ainda bem. O recurso desgastado já provou que não necessariamente o que é bom na revista funciona no palco. Usando um dos truques cênicos mais óbvios – 0 black out-, a diretora dá ao espetáculo o irresistível tom dos trashs. A cenografia e os adereços de madeira recortados ampliam a estética escolhida às últimas consequências. Tira, Adrenalina em Combustão é pura diversão para iniciados.
Cotação: 2 estrelas (Bom)