Com um clima ágil, o trio de personagens
Olivia Palito , Popeye e Brutus envolve espectadores na Casa de
Cultura Laura Alvim


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 29.06.1996

 

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A explosão criativa dos ‘instáveis’

A Cia Instável de Humor, dirigida por Carmen Leonora, tem um nome bastante adequado a sua proposta de repertório. O instável, no caso, não se caracteriza como um adjetivo pejorativo, mas é perfeitamente identificado com a ousadia com que a Cia. investe em uma carroça cenográfica, com cenários desenhados em perspectiva que davam ao minúsculo local dimensões surpreendentes. Ainda como importante reprodução de época era iluminado a luz de velas, que se acendiam ao cair da noite, apenas para iluminar a cena, e não como um recurso de efeito.

Em 93 foi a vez de A Verdadeira e Maravilhosa História de Scrooge , um conto de Natal de Charles Dickens, ambientada num carrossel de século passado, onde as cenas aconteciam exatamente no movimento do brinquedo. A Criada Patroa de 1995 tinha uma orquestra inteira em cena. Popeye, o Marinheiro, nova montagem da Cia, em cena no teatro da Casa de Cultura Laura Alvim, mais uma vez, não repete fórmulas. São os instáveis em plena criatividade.

Criado na década de 20 pelo cartunista Elzie Segar, Popeye, o Marinheiro caolho, nasceu como coadjuvante de Olívia Palito, o primeiro personagem de sucesso de Segar no Herald de Chicago. O quadrinho virou filme de animação, sob o comando de Max Fleischer, e de 1993 a 1954 apareceu no cinema e na TV americana. Daí por diante, ganhou o mundo e uma galeria de fãs.

Carmen Leonora, criadora do texto original e diretora da peça teatral, não se apoiou num personagem de sucesso para criar seu espetáculo. Popeye não tem, exatamente entre as crianças, a popularidade dos novos heróis dos quadrinhos e da televisão. E é esse o grande trunfo da encenação. Não é preciso ser um admirador das aventuras de Olívia Palito, sempre a dividir seu coração entre Popeye e Brutus. Nesse caso, a estratégia de levar ao palco personagens conhecidos em outros veículos é oportunista.

Não tentando usar o palco como um quadrinho ampliado, erro geral dos diretores que apostam no tema, Carmen Leonora criou um desenho de animação cheio de ritmo e situações cinematográficas. Os cenários grafados de Richard Luís e Carmen Leonora recortam ambientes e objetos com precisão. Os telões que descem ao fundo do palco e os cenários móveis, como o mar e o barco de Brutus, junto com os bonecos de manipulação de Celestino Sobral, dão velocidade á cena, conduzindo a intensa participação da plateia.

Com apenas três personagens no palco – Popeye (Marcos França), Olívia (Carmen Leonora) e Brutus (Mario Mendes), muito bem caracterizados pelos figurinos de Ney Madeira, o espetáculo é rico em detalhes, entre eles a luz quase cinema de Djalma Amaral.

Usando a linguagem corporal e a voz do desenho animado, o trio envolve a plateia no clima ágil da encenação. A performance bem-humorada de Mário Mendes ganha a simpatia do público no vilão Brutus. No entanto, a generosidade do ator não ator não permite que a trama sofra alguma inversão. A história se conta ao som do piano de Cadu Pereira, com efeitos de percussão de Marcio Romano. Popeye é o carteiro da Marinha dos EUA. Olívia vende beijos num parque para o Exército da Salvação. Brutus está por lá a passeio. Popeye entrega uma carta a Olívia, com 100 anos de atraso. Lá está uma pista para se achar o tesouro da família Palito, que vem em forma de música, que só Brutus sabe decifrar. Começa aí a aventura de climas românticos e é claro de muita perseguição. Diversão e qualidade na proporção exata.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)