Sandra Lindo, a autora e protagonista, e Nelson Freitas


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 04.05.1996

 

Barra

Um divertido musical

A história real da indiazinha Pocahontas e do seu amor pelo colonizador inglês John Smith no território de Werowocomoco, no estado de Virgínia, nos Estados Unidos, em 1607/08, revelada nos escritos de Smith, tem muito pouco de conto de fadas. Feito prisioneiro pelos guerreiros do chefe Powathan, Smith é salvo pela princesa, passa dois invernos com ela e depois embarca sozinho para a Inglaterra, onde a nativa só atrapalharia sua carreira militar. E como na vida real a vida é real demais, é bom saber que: John Smith era baixinho e Pocahontas não tinha a tal beleza estonteante. Requisito básico para uma princesa de contos de amor.

Mas não é essa a história que a autora Sandra Lindo, escreveu, e nem por esse motivo que o público infantil lota a plateia do teatro Ipanema, desde a estreia de Pocahontas, a Princesa da Paz. A popularidade e a glamurazição dada à história real pelos estúdios Disney, fez do personagem um sucesso de bilheteria em vídeos, álbuns, lancheiras, mochilas e o que mais lançarem.

O texto – que não segue a estrutura básica dos musicais, mas de uma peça com inserção de canto e dança – chega ao palco com excesso de palavras e de cenas estanques desnecessárias. Respeitando a trama romântica central, Sandra põe em cena uma boa dose de humor e uma trama paralela de personagens bem interessantes. Tão interessantes que mesmo a plateia que foi ao teatro ver o filme, acaba se envolvendo com a outra trama de amor. A de Naloma (Isabela Bicalho) e Jeremy (Marcos Jardim). Esta sim, cheia de conflitos e de final inusitado.

A direção de Cininha de Paula deu ao espetáculo o toque de business, essencial a um musical. Criando passagens de bastante ritmo – algumas feias com simples vinhetas – entre as muitas cenas que compõem o texto, a diretora criou um espetáculo harmônico de canto, dança e representação com a habitual qualidade que vem assinalando seus trabalhos. O gênero pouco exercitados em nossos palcos tem em Cininha de Paula uma das profissionais mais competentes da área.

O elenco, totalmente afinado com a direção, traz boas surpresas. Entre elas Rodolfo Monteiro compondo o engraçadíssimo comandante do navio inglês, e Isabela Bicalho como a combativa índia Naloma. Personagens secundários que ganham a simpatia da plateia pela força do talento dos atores que o interpretam.

O cenário moldura de Marcelo Marques diminui a boca de cena além do necessário. Porém, a sensível iluminação de Paulo César Medeiros, amplia os cenários de fundo e dá o clima exato à encenação. De muito bom gosto, os figurinos também assinados por Marcelo Marques, são luxuosos sem exageros ou brilhos.

As músicas de Fernando Wellington, ilustram a ação e se completam nas coreografias de Fernando Crupes, mesmo para não bailarinos. Entra aí o toque da diretora para valorizar o conjunto e fazer de Pocahontas, a Princesa da Paz um divertido musical.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)