Patrícia Costa, Carla Faour e Miwa Yanagizawa: no bom nível habitual na companhia


Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 22.06.1996

 

Barra

Para fãs de saudáveis esquisitices

Em 1994, Henrique Tavares, autor e diretor de O Que Não Está No Gibi, lançava, com a Cia. Ficadeira de Teatro, o interessantíssimo espetáculo De Como Quase Tudo Deu Errado. O polêmico texto abordava o nascimento de Cristo, enfocando a gravidez de Virgem Maria, que tinha de explicar a toda a aldeia a ao namorado José a razão do acontecido. Brincando na linha perigosa do humor com um tema tão conflitante, Henrique Tavares surpreendeu pela maneira delicada com que conduziu a trama, sem se tornar piegas ou desrespeitoso em nenhum momento. Era a medida exata.

O segundo espetáculo da Cia., O Circo Pega Fogo, também de sua autoria e direção, embora com um texto mais irregular, era rico em gags circenses e cinematográficas, à beira do Grand Guinoll, para contar a história de um palhaço cansado da vida circense que, ao tentar outras profissões, comete as reais e verdadeiras palhaçadas. Sempre usando alegorias para dar alfinetadas na atualidade, esperava-se que o novo texto de Henrique Tavares, O que Não Está no Gibi, ambientando na cidade de Cariocópolis, fosse mais do que uma brincadeira com os heróis dos quadrinhos. Não é. Usando todos os recursos e clichês das HQ, misturados aos dos antigos seriados da TV, o autor mostra seu espetáculo na linha bem humorada, mas sem o toque especial que marcou suas produções anteriores. Super é um herói em decadência. Seu editor, HQ, tenta reverter a baixa vendagem da revista programando sua falsa morte e depois sua volta retumbante. Super, sem óculos, é Mark, mas nem sua namorada, Luise Elaine, percebe. Enquanto Super tira umas férias, HQ lança um novo herói: Homenzarrão, que tem como grande sonho morar na Barra e ter um celular. Mas a história também tem um vilão, que prende Luise e quer explodir Cariocópolis. Quem salva a moça e a cidade?

A ideia de trazer o quadrinho para o teatro não é nova, mas poucas vezes tem dado certo. A tira encenada não tem a velocidade da ilustração nem o texto curto dos balões. Mesmo contornando o excesso da palavra com uma direção ágil, Henrique Tavares tem nas surpresas das gags os melhores momentos. A intervenção do Homem Invisível numa luta contra o mal é um deles. Também acelera o ritmo a intervenção dos números musicais, criados por Paula Faour e coreografados por Bel Viegas.

Os figurinos de Maurício Carneiro são bastante criativos e atendem a linha dos personagens Mas adereços complicados, como o chapéu iluminado dos assistentes do vilão, que têm de ser ligados por um enorme e visível fio, quase se desplugam na coxia. Aurélio de Simoni tem sua iluminação um tanto prejudicada pelos telões projetados ao fundo do palco. Sobra-lhe o contorno da cena que, no caso, é muito pouco para o talento do profissional.

A Cia. Ficadeira de Teatro repete em cena suas bem realizadas performances, cumprindo o tempo de comédia do autor e diretor com exatidão. O espetáculo que decola na ação se dirige a uma plateia de fãs de quadrinhos, seriados da TV em preto e branco, trash movies e outras saudáveis esquisitices.

Cotação: 2 estrelas (Bom)