Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 11.05.1996
Bom humor nos bastidores
O Grupo Papel Crepom está comemorando 15 anos de existência dedicados ao teatro para crianças. Depois de inovadoras versões para clássicos como Cinderela, Rapunzel, Aladim e Peter Pan, apresentadas por todo o país, o grupo encena um espetáculo especialmente escrito para sua festa de aniversário. O Fantasminha da Ópera – com texto de Marco Antônio Campos e Eduardo Roessler, também diretor da montagem -, é uma bem-humorada história sobre os bastidores do teatro. Mesmo sem referenciar a ação em determinada época, a trama revela personagens característicos do teatro boulevard dos anos 30 e 40, como o diretor autoritário, a estrela da companhia, o produtor mercenário, a velha dama do teatro, a ingênua e a malvada.
Num teatro prestes a ser transformado em mais um templo religioso, o diretor, pressionado pelo produtor, tem que fazer de sua próxima montagem – A Princesa e o Dragão – um retumbante sucesso de bilheteria. Para complicar um pouco as coisas, a estrela da companhia, Isadora Lamour, já um pouco passada da idade, quer o papel da princesa.
Tentando não cometer este equívoco, o diretor abre teste para o papel, onde concorrem Malvina, a filha de Isadora, e Cristine, a filha do zelador do teatro. E como nem só de talentos bem intencionados vivem as artes, entra em cena o fantasminha da ópera -, uma lenda comum aos teatros mal assombrados, onde vagam antigos talentos e alguns canastrões – para ajudar a ingênua. Tarde demais, o público já estava envolvido com Malvina, a bad girl da história.
O texto bem estruturado, seguindo à risca todos os clichês teatrais, dá aos personagens maus contornos mais delicados e de mais fácil empatia com a plateia. Ainda apostando no inusitado, as cenas do fantasminha – mesmo deixando claro que o suposto macabro não vem do além -, com efeitos engraçados de precariedade na luz do velho teatro, provocam gritos na plateia, como o saudável medo do trem fantasma ou da montanha russa.
A direção de Eduardo Roessler privilegia a plateia infantil, deixando-a bem à vontade para torcer por seus favoritos. Roessler, que além de diretor atua como uma espécie de narrador, através do personagem Arlequim, comprova mais uma vez seu talento de ator. Mas deixa o restante do elenco à vontade demais em suas performances. Sem uma marcação rígida e de poucos movimentos, alguns atores perdem seus textos em representação displicente, comprometendo cenas do espetáculo.
Por força do texto, Fernanda Bloch, no papel de Malvina, se destaca no elenco, dando ao personagem nuances muito engraçadas. O melhor de tudo, porém, fica com a encenação de uma peça dentro da outra – A Princesa e o Dragão, onde Célia Paixão, Marco Antônio Campos e Eduard Roessler cantam versões muito bem humoradas para árias de Turandot, Aída e outras óperas famosas, fechando assim o espetáculo num clima retumbante. O Fantasminha da Ópera inaugurou o horário vespertino do Teatro Municipal de Niterói e agora segue carreira no Teatro Abel, outro espaço nobre da cidade. Vale a pena atravessar a baía e conferir de perto o talento do grupo.
Cotação: 2 estrelas (Bom)