Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 15.06.1996
História ganha leveza com toque operístico
Regiana Antonini, autora do texto de As Aventuras de Pinóquio, e Chiquinho Nery, produtor do espetáculo que também assina a direção com Regiana, resolveram contar a história de Pinóquio, diretamente da obra de Carlo Collodi. A proposta era não seguir a versão Disney, supostamente uma glamourização da trama. Mas, por incrível que pareça, Pinóquio, o filme, embora maniqueísta no jogo da verdade e da mentira, tem apelo dramático mais forte que a peça. O que absolutamente não significa um erro de estratégia, da dupla Regiana e Chiquinho, mas uma opção por uma história mais leve com toques operísticos muito oportunos.
No texto de Regiana, o grilo falante tem o papel de narrador e mais três comadres comentam a ação. O primeiro personagem embora muito bem interpretado por Luís Carlos Tourinho, em alguns momentos evidencia falhas no texto tendo que narrar o acontecido. Pinóquio vai para o país dos burros, mas a acena não é vista. O menino apenas volta com orelhas para o rápido desfecho. As comadres, em nada acrescentam a trama, apenas a comentam em tom de fofoca, sem interferir. Ficando suas presenças justificadas coro apoio ao coro musical. A direção de Chiquinho Nery e Regiana para atores é correta. Mas para o espetáculo, segue bem até o meio da peça, onde cenas longas como as do gato e da Raposa só não comprometem o ritmo da encenação porque têm ótimos protagonistas em Stella Maria Rodrigues e Rubem Gabira.
Passados esses pequenos entraves, o espetáculo, que tem como grande trunfo um elenco de primeira, entre eles Milton Carneiro no papel de Gepeto, tirando humor com preciosas interferências, e Patrick Oliveira, num cativante Pinóquio, tem aparato técnico à altura. Os figurinos e adereços de Marcelo Marques são um achado de teatralidade na transformação dos materiais. Sem uniformizar os personagens, Marcelo brinca com vários estilos e cores, todos perfeitamente afinados com a representação. Os cenários de Alexandre Murucci, valorizam a ação de rua, mas poderiam dar mais espaço para a movimentação da fada. A direção musical de Sarah Benchimol e Victor Posas e os arranjos de Aécio Flávio sintonizam, a trilha operística e as tarantellas de maneira que elas se encaixam perfeitamente na trama. Valorizando a parte musical, a presença do ator e cantor lírico, Eduardo Amir, e as coreografias de Fabiana Valor e Tony Rodrigues.
As Aventuras de Pinóquio é uma alegre encenação que vem conquistando a plateia lotada do Teatro Clara Nunes. Com recursos de humor, visual atraente e trilha musical comunicativa, o espetáculo decola para o sucesso, independente de sua fidelidade à obra de Collodi. São as boas surpresas do teatro.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)