Karan e Andréa Veiga criam boas performances isoladas cativante

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 16.11.1996

 

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Guilherme Karan é o espetáculo

A Fera e a Bela é um espetáculo escrito, dirigido e produzido por Guilherme Karan, que também assina cenários e figurinos. Melhor dizendo, em A Fera e a Bela, Guilherme Karam é o espetáculo. Porém, o título propositalmente invertido não revela, como era de se esperar, um solo de ator, mas o acúmulo de funções que lamentavelmente prejudica a performance do show de Guilherme Karam. Razão principal do comparecimento em massa do público de todas as idades ao teatro. Acostumados a irreverência do ator em outros espetáculos como Aladim e Lâmpada Maravilhosa, onde seu humor rascante foi sem dúvida nenhuma responsável pelo sucesso da longa temporada, a plateia que lota o teatro Clara Nunes no horário vespertino, constata, na fatal comparação, que esta sobrando moldura e faltando Karam.

A adaptação do texto para o teatro, segue superficialmente o enredo do filme dos estúdios Disney, onde alguns personagens ganharam sua versão nacional, e outros de suma importância foram suprimidos. O pai da Bela é um deles. Na trama de conflito do personagem, que entrega a filha mais querida ao senhor do castelo, o pai é substituído por um cachorro recém, encontrado por Bela e pelo público. Ambos sem tempo hábil para criar algum vínculo afetivo com o personagem. Os outros personagens, a sineta, no lugar do bule, o lampião, substituindo o candelabro e o Rolex que fala com sotaque americano, interferem positivamente na trama, mas são melhor escada para Bela, deixando a Fera entregue a própria sorte.

Mesmo assim a plateia se diverte. Assumidamente um cult trash, brinca com todos os estilos: gótico–renascentista-carnavalesco. Os truques retirados dos parquinhos de diversão são o grande trunfo do espetáculo. A personagem Xicrinha (Debby Pessanha) de grande empatia com a plateia. Vem num carrinho de chá, dentro de uma xícara onde o truque de espelhos permite que seu corpo não seja visto. A levitação da Fera, quase no final da peça, é outro grande momento do espetáculo. Ainda na linha trash, os personagens Pretinho e Pintado vestem figurinos dignos de filmes de ED Wood. Uma delícia.

Com o elenco afinado: Andréa Veiga (Bela), KIka Freire (Zizi), Jayme Berenguer (Lampião), Salvatore Giuliano (Alex), Debby Pessanha (Xicrinha), Eduardo Torres (Pretinho), Zé Luiz Perez (Pintado), Neto Travassos (Bacana), Ana Luiza Rabello (Rosa) e Marcelo Miranda (Bonitão), Karam cria boas performances isoladas, mas se perde em algumas marcações de cenas de conjunto.

O semicírculo de atores, passando suas falas, que se forma em muitas cenas no castelo da Fera dificulta o entendimento do texto e prejudica o ritmo da encenação. Os bons momentos ficam com o poético teatro de sombras, logo no início do espetáculo, com os truques de efeitos especiais e com as inserções musicais bem cuidadas.

A Fera e a Bela é uma comédia de efeitos, feita com carinho por Guilherme Karam para a nova plateia que conquistou. Dessa maneira cumpre sua função.

Cotação: 2 estrelas (Bom)