Crítica publicada no Jornal Vertente (*)
Por Carlos Augusto Nazareth – Rio de Janeiro – julho 1997
Defendemos há muito tempo que um dos grandes problemas do Teatro para Crianças, ou Teatro Infantil – sem preconceitos com este adjetivo que passou a ser estigmatizante de uma postura depreciativa – é que muitos dos realizadores de Teatro Infantil, entendem de Teatro, mas muitas poucas vezes entendem de criança. Não é com certeza o caso de Tim Rescala, principalmente quando se une a Karen Accioly. Aí o bicho pega… como diria descontraidamente qualquer criança.
No parágrafo de abertura do programa do Centro cultural Banco do Brasil hpa algumas assertivas que são postulados, que achamos por bem transcrever: “A Orquestra dos Sonhos… foi criada em cima de duas certezas: que a sensibilidade está em todos nós, esperando ser educada; e que a ópera definitivamente não é chato. Crianças e adolescentes estão abertos à ópera como qualquer outra arte. Tudo é uma questão de iniciação dedicada e competente…”
O espetáculo de Tim Rescala e Karen Accioly tira da prateleira a ópera e a oferece ao seu público, revisitada e revista com prazer, alegria e um imenso bom humor que coloca à plateia pronta para ouvir e ver qualquer coisa de qualidade que lhe oferecem.
A história, em si, é uma pequena e delicada fábula que trata, antes de mais nada, de descobertas: do talento, do amor, da possibilidade de transgredir, crescer e criar. A criançada acompanha a trama e torce, como se assistissem a um tradicional filme de “cowboy”. Torcem pelo mocinho franzino e tímido que se apaixona pela doce pianista, torcem por todos, que finalmente farão – somente aquilo que querem – Pasárgada de qualquer criança. No final, plateia gritando e torcendo, braços no alto, e, melhor que tudo, emocionados e tocados pela beleza da música e espetáculo.
A direção de Karen lida com o lúdico, brinca todo o tempo com a música. O texto, os atores, como num grande faz-de-conta que toda criança conhece e domina. E participa ativamente. Em determinado momento público e plateia se tornam cumplices de uma grande aventura de faz-de-conta.
O herói da história, o tímido Zeca, e Príncipe Garboso na fábula, é feito por Zé Rescala, um tenor de primeira que faz para com “a doce e suave“ soprano Juliana Franco, que parece saída de um musical dos anos 30 – com uma voz encantadora e uma presença cênica suave, como convém à heroína de um conto de fadas. E ela é Maria, a tímida faxineira do teatro e a fada Feliz na fábula encenada pelos músicos.
Além disso a Orquestra de Sonhos apresenta ao grande público novos talentos até então não revelados para o teatro. Um, é Maria Teresa Madeira, pianista consagrada, concertista, que se revela uma doce Princesa Jinglebell e os dois “clowns”- revelação: Oscar Bolão, grande percussionista, e seu companheiro, também percussionista Rodolfo Cardoso, que compõem a dupla o Gordo e o Magro de forma muito divertida. No mais, cenário e figurinos simples, descontraídos, e criativos de outra dupla famosa: Ney Madeira (nos figurinos) e Lídia Kosovsky (no cenário), iluminados pela sempre competente luz de Paulo César Medeiros. No mais e no todo, a excelente “Pequena Orquestra”, de excelentes músicos, e excelente música. Um espetáculo imperdível para quem gosta de música, de bom humor, e de histórias bem contadas e principalmente para que – até agora – não gostava de nada disto, Vai gostar. É um espetáculo infanto-juvenil que atinge de verdade toda a família, numa abrangência de público pouco comum. Vá conferir.
(*) crítica publicada originalmente no Jornal do Comércio