Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 02.09.1995
Excesso de adereços atropela os atores
Romão & Julinha é uma adaptação de Romeu & Julieta, de Shakespeare, criada por Oscar Von Pfubl, especialmente para o público infantil. Ambientada numa Verona onde os Montecchio e os Capuletto são representados por antagônicas famílias de gatos brancos e gatos amarelos, a história começa numa biblioteca, onde o centenário guardador de livros, um simpático ratão, começa a escrever sua obra.
Julinha, uma princesa da linhagem dos gatos brancos, acaba se apaixonando por Romão, um gato amarelo, digno representante do povo em sua profissão de pescador.
No palácio, a comida anda escassa, mas o primeiro-ministro só quer saber de fabricar atiradeiras, armas poderosas em tempo de guerra. Já os amarelos são exímios fabricantes de varas de pescar, armas não menos poderosas em tempo de fome.
A união de um casal tão diferente, depois de muito conflito, acaba por sanar todos os problemas da corte. Enfim, é a vitória do amor aliado ao talento e um pouco de suor. Mais ou menos como acontece no teatro.
Mas se a história é inventiva, a montagem concebida por Gustavo Bicalho e Henrique Gonçalves chega ao palco carecendo de mais espaço para que flutua naturalmente. O aconchegante cenário, também assinado por Gustavo Bicalho, inclui uma biblioteca, com volumes cuidadosamente envelhecidos, um carrinho de chá com bule e xícaras de delicada porcelana onde um castiçal dialoga com um ratão-narrador, através de manipulação oculta. Embora de bom gosto, o excesso de adereços acaba atrapalhando a encenação, conferindo ao espetáculo, em alguns momentos, aquele inevitável tom de formação de coral ou de atropelo. A retirada do narrador, em algumas cenas, poderia ajudar na movimentação dos demais personagens.
Com performances equilibradas, os atores da Cia. de Teatro Artesanal criam seus papéis no tom intimista do espetáculo. Ellen Soares (Julinha) e Pablo Siqueira (Romão) formam um casal simpático, mas não aponto de fazer com que a plateia torça por seu final feliz. Muito mais envolvente está Miguel Bellini – também responsável pelos criativos -, no papel do ratão-narrador, e Ronaldo Reis, o abominável ministro.
Criando o devido clima para ambientes fechados – no caso, a biblioteca -, a iluminação de Djalma Amaral é convincente na maior parte do tempo. O exagero fica por conta do excesso de pisca-pisca nos momentos de tensão.
Centrando suas forças muito mais na trama do que no carisma dos personagens, Romão & Julinha é um espetáculo bem idealizado, que poderia ganhar realização à altura.
Cotação: 2 estrelas (Bom)