Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 06.05.1995
Um espetáculo de tirar o fôlego
O Teatro do Anônimo, responsável pela montagem de Roda Saia, Gira Vida, é uma companhia de atores que há oito anos vem apresentando seu espetáculo circense pelas ruas da cidade. Essa trupe de palhaços malabaristas, que pela primeira vez ocupa um espaço fechado, realiza proeza no trapézio como se não tivesse feito outra coisa na vida.
Ao contrário dos Irmãos Brothers, remanescentes da Intrépida Trupe, que fazem um trabalho vibrante na linha do humor, embalados pelo melhor do Rock and Roll, ou das Marias da Graça, as clowns que seguem um estilo mais europeu, o Teatro Anônimo busca sua inspiração nos cirquinhos mambembes que correm as cidades do interior.
Sem nenhuma pieguice no resgate histórico, os artistas desse picadeiro brincam com a ingenuidade de personagens como a mulher barbada, o palhaço perna de pau, o mágico de cartola e os malabaristas do trapézio, em performance digna de figurar no teatro de variedades de Frederico Fellini.
No interessante contraponto ao circo-espetáculo das companhias internacionais, que invadem a cidade com trapezistas voadores que despencam das alturas, dentro da maior segurança, os atores do Anônimo arriscam a vida a poucos metros da plateia. A ousadia da trupe é plenamente recompensada quando o fôlego suspenso do espectador é quebrado pelo aplauso aliviado.
Fugindo das trilhas sonoras previsíveis, Wilson Belém investe na música popular brasileira dos anos 40/50, que se adéqua perfeitamente a situações. A inexistência do texto é compensada pela performance dos palhaços. Dividindo papéis, João Carlos Artigas, Maria Angélica Gomes e Márcio Libar apresentam cenas em sua maioria ágeis.
Apenas o ensaio da banda que só decola depois de algumas tentativas fica um tanto repetitivo. A espera, porém, é recompensada quando Regina Oliveira e Shirley Brito, sem muito estardalhaço, penduram-se numa frágil barra vertical e realizam o mais incrível e perigoso balé acrobático. Levando-se em conta as condições gerais do teatro e a descendência das atrizes que por certo não nasceram num picadeiro, o que se vê é de tirar o fôlego.
Com cenários muito atraentes de Hélcio Pugliase – a ribalta iluminada é um achado – e figurinos divertidos assinados pelo grupo, Roda Saia, Gira Vida é um espetáculo de emoções, que pega o público de surpresa. Um truque de primeira qualidade.
Roda Saia, Gira Vida está em cartaz no Teatro Cacilda Becker, aos sábados e domingos,às 17h. Ingressos a R$ 6.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)