Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 09.12.1995
Plateia se diverte na floresta
Poucas vezes o teatro itinerante encontrou mais receptividade junto à plateia infantil ou adulta do que com a montagem de Robin Hood, dirigida por Gaspar Filho e Murilo Elbas nos jardins da PUC, na Gávea. Diferentemente de outras peças, do mesmo estilo, em que o público é convidado a participar na condição de mero espectador, neste espetáculo ele é parte integrante do enredo, quando se junta ao povo da floresta Sherwood como mais um elemento do bando alegre.
Gaspar Filho, que sempre é chamado pelos diretores de enredos capa-espada para coreografar as cenas de esgrima – Robin Hood, a Lenda e O Diamante do Grão Mongol, entre outros – tem em Robin Hood o veículo ideal para demonstrar, dessa vez a seu favor, todo o seu potencial. Do texto dúbio de Vinicius Marques, que entremeia diálogos de vulgaridade explícita com momentos de pura emoção (os diálogos de Marian e Robin, o discurso final do Rei Ricardo e tantos outros, que fazem com que a obra de um único autor se pareça com o produto final de uma estranha parceria), Gaspar e Murilo tiraram o melhor.
As cenas românticas, feitas muito próximas da plateia, as lutas a cavalo, o torneio na corte do Príncipe João e o gran finale, com a chegada do Rei Ricardo Coração de Leão, suplantam em qualidade pequenos deslizes (do texto, pactuados pela direção), como o contraponto do vigor apresentado pelo bando de Robin Hood ser a fragilidade do estereótipo homossexual da corte.
O elenco, composto por 40 atores, divididos em papéis principais e elenco de apoio, está em cena em plena harmonia com a concepção do espetáculo. Sem nenhum culto à juventude que apresente os habitantes de Sherwood somente interpretados por jovens atores, o diretor acerta quando coloca em cena intérpretes de todas as idades. Murilo Rosa é um Robin vigoroso, mesmo não sabendo manejar o arco e flecha e sem participar das lutas a cavalo. Assim, seu maior trunfo fica na interpretação romântica que dá ao personagem. Alexandra Maia tem bonita presença cênica como Lady Marian.
Além do casal principal, se destacam no bando André Falcão, como Will Scarlet, e André Bonow como João Pequeno. Na corte, Murilo Elbas é convincentemente irritante como o Xerife de Notthinghan e Licurgo Espindola fecha a cena com especial emoção na figura do Rei Ricardo.
O exagero da realeza fica por conta das interpretações de André Masseno, Flavio Baiocchi e Sergio Abreu, respectivamente Príncipe João, Bispo Hamelin e Sir Guy Gisborne, tornando-se a trinca o ponto destoante de espetáculo.
Os figurinos de Luciana Maia têm o envelhecimento exato que pede a ação. Sem brilhos exóticos ou adereços pesados, Luciana veste bem tanto a corte como o povo. O detalhe dos sapatos feitos de trapos amarrados aos pés, mesmo que por cima dos sapatos, causam um efeito muito interessante.
As músicas de Bruce Gomlevsky invadem a plateia, que, sem nenhum constrangimento, acompanha o espetáculo em afinado coro. Com todos esses atributos, Robin Hood é uma ótima surpresa nesse final de temporada.
Cotação: 3 estrelas (Ótimo)