Mozart Moments conta a vida do compositor através da técnica de manipulação de bonecos

Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 05.08.1995

 

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Uma delicada biografia

Titiriteiro ou bonequeiros é um fechadíssimo grupo de profissionais que trabalha na confecção de bonecos, fantoches e títeres, e que por mais organizados que sejam, poucas vezes enfim nas temporadas regulares dos teatros. Assim, esta arte considerada sem escolas no Brasil é sempre vista e feita por artista e para plateias muito específicas, em festivais e mostras que acontecem no país e principalmente fora dele.

O Grupo Sobrevento, quebrando a regra imposta aos titiriteiros, vem apresentando o seu Mozart Moments há quatro anos em espaços abertos ou adaptados, como na recente temporada na Sala dos Archeiros do paço Imperial, e pela primeira vez nesse tempo todo, realiza, enfim, seu espetáculo num teatro.

Mozart Moments, com pouco mais de uma hora de duração, conta em seis esquetes trechos da vida do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart, sem o tom exaltação que se costuma usar nas peças biográficas. Ao contrário, são mostradas cenas comuns do cotidiano de qualquer mortal, com seus dramas e comédias, ficando o brilho da ação por conta da personagem escolhida e, principalmente, pela inventividade do grupo ao contar essa história.

No palco, com seus trajes de época, Luís André Cherubini – também diretor do espetáculo -, Miguel Vellinho e Sandra Vargas, são atores manipuladores que retiram de uma carroça, bonecos e adereços cenográficos para montar e desmanchar diante do público as cenas do enredo. Sem uma cronologia rígida, o espetáculo começa com a ida de Mozart ao cabeleireiro, onde são revelados usos e costumes da época. Seguem – se depois, o nascimento do compositor, sua fase de sucesso junto ao público, sua falta de talento para ganhar dinheiro, cenas de amor e ódio com a mulher Constance, e, finalmente, sua morte. Mesclando uma variação da técnica japonesa do bunraku – bonecos de fibra de vidro, espuma e pano, manipulados por dois atores – com o fantoche de luva, o Sobrevento derruba alguns mitos criados pelos titiriteiros. O principal deles é que um títere com um sorriso – e essa é a máscara escolhida – não dura dez minutos em cena. Mesmo assim o personagem Mozart vai da comedia, quase pastelão, a emocionante cena de morte, feita com respiração ofegante, sem troca de boneco.

Cotação: 3 estrelas (Ótimo)