Crítica publicada no Site Pecinha é a Vovozinha
Por Dib Carneiro Neto – São Paulo – 17.08.2018
Um encantamento feito só com técnicas de animação em papel
Assim é Elisa e os Cisnes Selvagens, do grupo Por Um Triz, com direção acertadíssima de Péricles Raggio.
Sou bastante fã da peça O Mistério do Sapato Desaparecido, de 2015, do grupo Por Um Triz. Trata-se da história de Cinderela contada pelo ponto de vista dos sapatos da loja do sapateiro que terá de consertar o salto quebrado do tal sapatinho de cristal, usado no baile do palácio por uma misteriosa mocinha na noite anterior. Os personagens são todos sapatos. Acho uma ideia sensacional, que merecia que um grande estúdio de cinema de animação se debruçasse sobre ela e criasse um filme encantador, inusitado, surpreendente até para os padrões Disney. Quem se habilita?
Mas eis que me deparo agora com a nova montagem desse veterano grupo de teatro de animação, Elisa e os Cisnes Selvagens, desta vez baseada no conto Os Cisnes Selvagens, de Andersen. Outra pérola, que merece figurar por muito tempo no repertório da companhia. Aqui, o grande lance – que vai encantar sua família inteira – é que a peça recupera e valoriza as técnicas do chamado teatro de papel, como pop up, bonecos bi e tridimensionais, origami, kirigami e sombras. É inacreditável o uso talentoso que o grupo faz de todas essas técnicas. Em um mundo que hoje hiperprivilegia os recursos tops da alta tecnologia, voltar-se para o simples uso de papel em cena merece um prêmio de louvor. Tiro meu chapéu para essa simplicidade ousada e para o talento do grupo em recontar clássicos de formas inesperadas.
Com texto de Márcia Nunes e Péricles Raggio, que também assina a direção, a peça é uma livre adaptação do conto de Andersen – muito bem pensada, escrita e concebida. O prazer de estar na plateia – e ver a fábula se desenrolar sem pressa e com tanta riqueza de detalhes – é imenso. A peça começa com o palco cheio de caixas de papelão – cenografia e bonecos de Miguel Nigro, arquitetura de papel da incrível Liana Yuri, desenhos de Lúcia Lacourt. A intenção é mostrar que duas mulheres (Andreza Domingues e Márcia Nunes) estão se preparando para mudar de casa. Uma delas está mais triste, demonstrando não saber lidar com essa fase de transição, e a outra então tira maquetes e figuras de papel de dentro das caixas e resolve contar a história da princesa Elisa como forma de animar a companheira melancólica, enquanto não chega o caminhão da transportadora.
E ela conta justamente a história de uma princesa que precisa se fortalecer para salvar seus 11 irmãos enfeitiçados por uma madrasta má e que viraram cisnes migratórios. Assim, vivenciando essa trama fantasiosa, as duas mulheres sentem-se mais fortalecidas a enfrentarem sua mudança e a lutarem também por uma transformação. Um assunto importantíssimo para as crianças. Persistência e perseverança são as duas lições mais evidentes do espetáculo, mas, felizmente, sem discursos moralistas ou pregações facilitadoras. Corra para ver, pois vale muito a pena.
Serviço
Em Agosto
Local: Teatro João Caetano
Endereço: Rua Borges Lagoa, 650 – Vila Clementino, SP
Telefone: (11) 5573-3774
Quando: Sábados e domingos, às 16h
Duração: 50 minutos
Classificação: livre
Ingressos: gratuitos, retirar o ingresso uma hora antes
Sessão especial: Dia 25 de agosto – apresentação com tradução em libras
Temporada: De 28 de julho a 26 de agosto de 2018
Em Setembro:
Local: Teatro Cacilda Becker
Endereço: Rua Tito, 295, Lapa, SP
Telefone: (11) 3864-4513
Quando: Sábados e domingos, às 16h
Duração: 50 minutos
Classificação: livre
Ingressos: gratuitos, retirar o ingresso uma hora antes
Sessão especial: – Dia 1.° de setembro, apresentação com tradução em libras
Temporada: De 1.° a 30 de setembro de 2018