Crítica publicada no Jornal do Brasil – Caderno B
Por Lucia Cerrone – Rio de Janeiro – 21.05.1994
Musical tímido, mas caprichado
Não é rara a procura do ator por textos em que possa explorar todas as suas potencialidades: um movimentado musical com pitadas de humor, uma farsa medieval ou um conto de fadas… Enfim, são muitas as opções de estilo. Mas se o que está escrito não é bem o que se preocupa, e os textos feitos por encomenda seguem mais as tendências do próprio autor, resta ao ator se lançar na aventura de construir seu próprio texto. Neste, sim, ele poderá usar todos pós elementos que desejar. E é aí – salvo raríssimas exceções – que as coisas se complicam. Entre outros problemas, alguma proposta inicial se perde pelo caminho, sem que os atores-autores se deem conta. E quem vai notar? Com alguma certeza; o diretor, e com toda a certeza, o público.
Um, Dois, Três…Era uma Vez, das atrizes-autoras estreantes Marília Curi Vitari e Tetê Dias tem alguns desses lapsos em seu enredo, mas o problema não chega a ser incontornável. Um menino resolve fugir de casa porque ficou em recuperação na escola. Na fuga, vai parar no bosque ressecado que sempre apreciava da janela de seu quarto. Por lá, os duendes Puntagruel e Croque, mais as fadinhas Aura, estão fugindo da feiticeira Dandara e de seu fiel ajudante, que aprisionaram a princesa Alegria. Para salvar a princesa, e a floresta, é preciso achar a pedra mágica. Mas porque a bruxa queria secar a floresta? O conflito é estabelecido, mas não é explicado na encenação e muito menos entendido.
Com tanta trama, era de se esperar que o espetáculo corresse num ritmo vertiginoso, o que não acontece. O experiente diretor Ewerton de Castro centrou suas forças no melhor que o elenco pode dar. Assim, as cenas de movimentação acrobática são sem duvida as que se destacam. Com incrível habilidade, Henrique Gonçalves, Mona Magalhães E Gilda Vilaça realizam acrobacias inesperadas, que acabam cativando a plateia. Principalmente Thatianie Manzon, no papel de Croque, o duende gordinho. Além de agilidade surpreendente, a atriz tem o maior humor do espetáculo. Não tão feliz, no entanto, é a ideia de colocar a feiticeira Dandara – Maria Adélia – todo o tempo sobre pernas-de-pau. Embora a figura seja de impacto, o barulho da madeira contra a madeira e a necessidade de contínua movimentação do personagem prejudica a concentração do público no texto.
Os cenários e figurinos de Marília Curi Vitari são simples e de bom gosto. As árvores de tecidos tingidos ton-sur-ton dão grandiosidade ao palco do tão castigado Cacilda Becker. Os trajes dos duendes, semelhantes aos dos bonequinhos vendidos nas lojas esotéricas, aliados à caracterização – maquiagem e perucas – assinados por Márcio Macedo e Mona Magalhães, conferem aos personagens alguma familiaridade, sem torná-los uma cópia. A iluminação de Ewerton de Castro é inspirada. As falhas de operação, porém, acabam deixando os atores no escuro em momentos importantes.
Com músicas de Chiquinho Rota, cantadas ao vivo pelo elenco, Um, Dois, Três… Era uma Vezé uma encenação ainda tímida, mas feita com todo capricho e respeito ao público. A intenção é louvável.
Um, Dois Três… Era uma Vez está em cartaz no Teatro Cacilda Becker, aos sábados e domingos, às 17h. Ingressos a CR$ 2.500.
Cotação: 2 estrelas (Bom)